São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2001 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Ameaça à verdade eleitoral
LEONEL BRIZOLA
É como se oferecessem um lote com dezenas de milhares de urnas e dissessem: "Tomem, descubram quais são essas urnas, confiram com o resultado que o seu fiscal obteve no local e vejam se está certo; vocês têm três dias para, discordando, formalizar a queixa. E com provas". Caricato? Então caricata é a realidade do nosso processo eleitoral. Mas não param aí os problemas. Há um outro, muito grave, gravíssimo, que por si só já seria motivo de escândalo. O tribunal sequer abre aos partidos a totalidade dos programas contidos na urna. Seja sob a alegação de tratar-se de programa comercial, o que violaria o "segredo" industrial do fabricante, seja por realizarem a criptografia dos resultados. E quem faz esses programas? Um órgão chamado Cepesq, que era subordinado ao SNI e hoje é subordinado à Abin, vinculando-se, portanto, ao Palácio do Planalto! O PDT, com a ajuda de uns poucos homens públicos e de vários técnicos do setor, vem denunciando esse absurdo. Tenho empenhado todos os esforços para fazer o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) -o ministro Nelson Jobim, em especial, a quem caberá presidir o processo de escolha do novo presidente- ver que, mantido o atual sistema, nossas eleições estarão escancaradas à fraude e à manipulação. Os exemplos de fraudes eletrônicas, desde aquela embrionária que vivi no episódio Proconsult, há quase 20 anos, não nos dão mais o direito de sermos ingênuos e pueris. O que mais, depois de episódios como o do painel do Senado, pode ainda ser alegado para que nos prostremos como adoradores da suposta honestidade infalível dos sistemas eletrônicos? Apresentamos propostas concretas ao TSE. Uma delas é o acoplamento de uma pequena impressora à urna eletrônica, a qual depositaria automaticamente a cédula num recipiente inviolável e permitiria ao eleitor visualizar o voto. Para auditar o resultado eletrônico, poderíamos conferir o voto material. Será que veremos a alegação de falta de recursos para algo que não custa mais do que 5% ou 10% do valor das urnas? Ora, em poucos anos, bilhões e bilhões foram gastos para informatizar, a toque de caixa, as eleições no país. Ser democrata não é uma simples definição, é uma ação permanente em defesa da vontade popular. Os candidatos têm passado ao largo dessa questão vital. É compreensível que os governistas e os beneficiários do poder o façam. Mas é insólito que os que dizem ter vindo para mudar estejam colocando placidamente sua cabeça sob a lâmina da fraude. Leonel de Moura Brizola, 79, engenheiro, é presidente nacional do PDT. Foi governador do Rio Grande do Sul (1959-63) e do Rio de Janeiro (1983-87 e 1991-94). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Isabel Vaz: O Cade e as fusões bancárias Índice |
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