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CLÓVIS ROSSI
Lula, o caleidoscópio e o vento
QUITO - Vista de longe, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva é uma espécie de caleidoscópio. Cada um a vê de
acordo com seus interesses, seus medos, suas esperanças.
Na Colômbia, por exemplo, a influente revista "Cambio" tascou na
capa "Lios en el vecindário", com as
bandeiras de Brasil, Venezuela e
Equador. Tradução: a eleição de Lula, a presença de Hugo Chávez na Venezuela e o franco favoritismo no
Equador do general da reserva Lucio
Gutiérrez (esquerdista como os outros dois) traria problemas ("lios") na
vizinhança da Colômbia (como se ela
já não os tivesse em cachos).
Já no Equador, o jornal "Hoy", no
editorial de capa ontem, vê Lula como solução, não como problema. Sua
vitória seria "um argumento contra
os ideólogos extremistas da luta armada ou do apoio aos golpes militares e inclusive de uma suposta "quarta via" representada pela rebelião da
sociedade civil".
Ou seja, tudo o que os adversários
de Gutiérrez acreditam que ela represente teria sido derrotado por Lula
no Brasil.
Já o líder dos plantadores de coca
da Bolívia, Evo Morales, vê na vitória
de Lula a derrota da Alca (a Área de
Livre Comércio das Américas).
"Usemos a palavra de Lula: se o
Brasil não entra (na Alca), a América
Latina também não", diz Morales,
segundo colocado na recente eleição
presidencial boliviana.
Não estou certo de que Lula tenha
de fato dito algo parecido, mas não
importa. Importa como foi lido.
Ángel Maza, líder estudantil equatoriano, vai mais longe no "revolucionarismo" com que enxerga o caleidoscópio. Acha que Lula dirá não
à Alca, mas também não ao pagamento da dívida externa. "Se o fizer,
vamos respaldá-lo", diz Ángel, presidente do Conselho Nacional de Estudantes Universitários, sob um "banner" que o velho Lula subscreveria:
"Vamos, jovens, que hoje o povo espera novos ventos de liberdade".
Para onde soprarão os ventos do PT
e de Lula?
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