São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Lula, o caleidoscópio e o vento

QUITO - Vista de longe, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva é uma espécie de caleidoscópio. Cada um a vê de acordo com seus interesses, seus medos, suas esperanças.
Na Colômbia, por exemplo, a influente revista "Cambio" tascou na capa "Lios en el vecindário", com as bandeiras de Brasil, Venezuela e Equador. Tradução: a eleição de Lula, a presença de Hugo Chávez na Venezuela e o franco favoritismo no Equador do general da reserva Lucio Gutiérrez (esquerdista como os outros dois) traria problemas ("lios") na vizinhança da Colômbia (como se ela já não os tivesse em cachos).
Já no Equador, o jornal "Hoy", no editorial de capa ontem, vê Lula como solução, não como problema. Sua vitória seria "um argumento contra os ideólogos extremistas da luta armada ou do apoio aos golpes militares e inclusive de uma suposta "quarta via" representada pela rebelião da sociedade civil".
Ou seja, tudo o que os adversários de Gutiérrez acreditam que ela represente teria sido derrotado por Lula no Brasil.
Já o líder dos plantadores de coca da Bolívia, Evo Morales, vê na vitória de Lula a derrota da Alca (a Área de Livre Comércio das Américas).
"Usemos a palavra de Lula: se o Brasil não entra (na Alca), a América Latina também não", diz Morales, segundo colocado na recente eleição presidencial boliviana.
Não estou certo de que Lula tenha de fato dito algo parecido, mas não importa. Importa como foi lido.
Ángel Maza, líder estudantil equatoriano, vai mais longe no "revolucionarismo" com que enxerga o caleidoscópio. Acha que Lula dirá não à Alca, mas também não ao pagamento da dívida externa. "Se o fizer, vamos respaldá-lo", diz Ángel, presidente do Conselho Nacional de Estudantes Universitários, sob um "banner" que o velho Lula subscreveria: "Vamos, jovens, que hoje o povo espera novos ventos de liberdade".
Para onde soprarão os ventos do PT e de Lula?


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