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CARLOS HEITOR CONY
Mudança para o mesmo
RIO DE JANEIRO - Devemos louvar o clima civilizado e patriótico que está
marcando este início de transição,
em especial o afetuoso encontro do
presidente eleito com seu antecessor.
Dando aos césares o que é dos césares, vamos dar também algo a Deus
ou ao Demônio. O legítimo entusiasmo popular com a vitória de Lula representará realmente uma mudança
de prioridades ou apenas de indivíduos? Especula-se há muito sobre os
veios subterrâneos que ligaram o PT
ao PSDB desde as suas origens.
A dobradinha de agora -FHC e
Lula- formou-se há tempos, nas lutas sindicais dos tempos do autoritarismo, nas campanhas e nas mobilizações que marcaram o fim do regime militar. Quando FHC foi eleito,
também ele era um fato novo. Em
busca da governabilidade, foram assumidos compromissos tais e tantos
que o eleito foi obrigado a dizer ou a
deixar que dissessem por ele: "Esqueçam o que escrevi".
Acredito que Lula nunca irá pedir
para que esqueçamos o que ele sempre falou. Durante a campanha, ele
foi obrigado a alianças e a compromissos em nome da elegibilidade.
Elegeu-se estrondosa e merecidamente.
O problema dele será agora o da tal
governabilidade. Já foi dito que não
se faz revolução sem os radicais, mas
é impossível governar com eles. Lula
chega ao poder sem revolução. A
classe operária não está indo para o
poder, a despeito de um ex-operário
ter sido eleito com limpidez sem igual
em nossa história.
Estranho o tom com que estão saudando uma nova era. Para os mais
entusiastas, o Brasil vai começar agora, devemos mudar até o nome dos
meses e a contagem do tempo, como
aconteceu na Revolução Francesa:
termidor, pluviário etc.
Como aquele velhinho do extinto
Iseb, no início dos anos 60, diante de
tamanha facúndia, levanto o dedo e
digo: Tá tudo muito confuso, temo
que não dê certo.
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