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Avanço chinês
Presença industrial da China nas importações cresce e evidencia a ameaça de a indústria brasileira ficar para trás em áreas importantes
A área de pesquisas econômicas do BNDES divulgou nesta semana um interessante estudo sobre o aumento da participação de
produtos da China no mercado
brasileiro. O trabalho mostra que
as dificuldades da indústria nacional não serão passageiras frente à voracidade das empresas chinesas, favorecidas por capital
abundante e câmbio competitivo.
Em 2005, a China respondia por
mais de 10% das importações brasileiras em apenas 6 de 19 setores
industriais; já nos doze meses encerrados em agosto de 2010, isso
ocorria em 12 setores. Nesse período, US$ 21,4 bilhões foram importados dos chineses, valor que representa 14,5% das compras brasileiras -contra 7,3% em 2005.
O salto é mais pronunciado em
produtos com forte componente
de trabalho e de tecnologia. É justamente nas frentes em que o Brasil é menos competitivo que a perda de mercado foi maior. São setores em que o país tem participação
inferior a 1% nas exportações
mundiais, como máquinas e equipamentos, material elétrico, eletrônicos, química etc.
A transformação da China em
grande plataforma industrial do
mundo modifica profundamente
a divisão internacional do trabalho. De um lado estão os países desenvolvidos, que fornecem tecnologia em troca de acesso ao mercado chinês, mas que agora se veem
ameaçados por novos concorrentes em seus setores líderes (aviação, biomédica, nanotecnologia,
química etc.). De outro, os fornecedores de matérias primas, a
maior parte em estágio intermediário de desenvolvimento, beneficiados pelo alto preço de suas exportações agrícolas e minerais,
mas com problemas para conter o
avanço de produtos chineses.
O Brasil é muito competitivo em
setores primários, que contam
com o apoio de tecnologia e pesquisa aplicada (a Embrapa é o
exemplo de sempre na agropecuária), mas tem dificuldades de competir nas indústrias intensivas em
capital e conhecimento fora do
complexo de commodities.
Para ser rentável economicamente, a indústria avançada demanda grande volume de capital e
produção em larga escala. Como o
mercado interno (mesmo o chinês) dificilmente tem tamanho suficiente em setores de ponta, torna-se crucial contar com exportações, ao menos nos estágios iniciais. Este tem sido o aspecto forte
da estratégia chinesa, que além da
política cambial privilegia a geração de tecnologia própria.
Argumentam alguns que não
faz sentido falar em desindustrialização com a economia brasileira
atuando a plena capacidade. É
verdade, mas numa visão de curto
prazo. Sem uma política industrial
eficaz, auxiliada por pesquisa
aplicada, câmbio realista e infraestrutura moderna, o Brasil
continuará correndo o grave risco
de perder densidade industrial
nos próximos anos.
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