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Sabatina Folha - Ronaldo

Nos vândalos e nos mascarados tem de baixar o cacete mesmo

EX-ATACANTE E MEMBRO DO COMITÊ ORGANIZADOR LOCAL DIZ QUE NÃO HAVERÁ OUTRA COPA DO MUNDO NO PAÍS: "A FIFA VAI FICAR TRAUMATIZADA"

DE SÃO PAULO

Muitas vezes tenso, suando bastante, mas bem-humorado em outros momentos, Ronaldo, 37, ex-atacante da seleção brasileira e integrante do COL (Comitê Organizador Local) da Copa, abusou das pausas aparentemente na intenção de evitar declarações polêmicas.

Não conseguiu. Em sabatina na Folha nesta quinta (29), disse que sente vergonha pelo fato de que o prometido legado da Copa não se concretizou, apoiou os protestos de rua, mas foi duro com os manifestantes violentos: para ele, as forças de segurança devem "baixar o cacete" nos "vândalos".

O ex-jogador, o maior artilheiro da história dos Mundiais (15 gols), foi entrevistado por duas horas por Naief Haddad, editor de "Esporte"; Uirá Machado, editor de "Opinião"; e Roberto Dias, secretário-assistente de Redação.

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Protestos

Questionado sobre a possibilidade de protestos na Copa, Ronaldo disse que as manifestações pacíficas são "válidas". As violentas, não.

"A partir do momento em que há vândalos no meio disso, mascarados... A segurança pública tem de conter esses vândalos. Parece que as pessoas acordaram [para os problemas do país], mas acordou todo mundo junto. Ninguém sabe como fazer ou por onde ir. A população tem de protestar sem violência. Nos vândalos, mascarados, tem de baixar o cacete mesmo."

Críticas à Copa

Em entrevista à Reuters, Ronaldo causou polêmica ao manifestar "vergonha" pelas obras da Copa. Nesta quinta (29), ele explicou que a reclamação não era pelos atrasos.

"A minha vergonha é pela população que esperava grande legado. Reformas de aeroporto, obras de mobilidade urbana... Os estádios estão aí. Bem ou mal, estarão prontos. Apenas 30% do que foi prometido [de obras de infra-estrutura] será entregue. Esta é a minha vergonha."

Cansado de apanhar

Disse quatro vezes estar "indignado" com os atrasos e por, muitas vezes, ser responsabilizado por isso.

Nos últimos meses, ele foi chamado de "imbecil" pelo escritor Paulo Coelho por ainda apoiar a Copa. O ex-atacante e deputado federal Romário (PSB-RJ) reclamou que o ex-colega de seleção estava "trocando de lado".

"Faz dois anos que eu venho levando porrada. Eu não mereço. O meu dinheiro ganhei de forma limpa. Não tenho empreiteira. Não peço favor a nenhum político. A culpa não é minha se o Brasil não tem hospital decente."

'A grande vítima'

Para o ex-atacante e empresário (é um dos sócios da 9ine, agência de marketing esportivo), não haverá, no futuro, outra chance para o público ver o Mundial no país.

"Acho que não vai ter outra Copa no Brasil. A Fifa vai ficar traumatizada [com a competição deste ano]."

Ele defende que a ideia da Copa do Mundo foi vendida como panaceia que resolveria todos os problemas do povo brasileiro.

"A Copa é uma grande vítima. A gente não pode esquecer o país que vive. Até parece que antes da Copa o nosso país era incrível, com saúde perfeita. Educação então, nem se fala... Quem tem de resolver nossos problemas somos nós mesmos."

Aécio Neves

Ele reafirmou o apoio a Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência, anunciado na semana passada. Lembrou ser amigo do ex-governador mineiro desde 2000.

"Meu voto é dele. Não é grande absurdo eu ter dito que vou votar no Aécio. Eu sou um cidadão como qualquer outro. Minha opinião é sincera. Não tenho ligação com nenhum partido", disse.

Amigos

Para deixar claro que não tem filiação política, Ronaldo citou amigos que tem no PT e no PSDB.

Disse que pretende apoiar Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e candidato a deputado federal. "Ele é meu amigo. E é do PT."

Também citou ter excelente relacionamento com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula.

"Fui várias vezes almoçar com o Lula no [Palácio do] Alvorada. Eram almoços maravilhosos. Também gosto muito de estar com o Fernando Henrique, ele conta histórias incríveis. Eu não tenho relação com a Dilma. Talvez porque a Dilma não beba uma cachaça", disse, rindo, lembrando a suposta preferência de Lula pela bebida.

O melhor do mundo

Ronaldo considera Neymar "um ou dois degraus abaixo" do português Cristiano Ronaldo e do argentino Messi. São jogadores que, para o atacante que era chamado de "Fenômeno", estão na frente de todos os outros.

"O melhor, hoje, é o Cristiano Ronaldo. Mas o Neymar logo os superará. Será o melhor em um ou dois anos. Se o Brasil for campeão e o Neymar for nosso melhor jogador, ele será eleito pela Fifa em janeiro. Ele é muito jovem [22 anos], mas é experiente demais para a idade que tem."

Seleções favoritas

Ele apontou Brasil, Alemanha, Argentina e Espanha. Disse acreditar que a final será disputada entre brasileiros e alemães, em 13 de julho. "Temos mais possibilidades de ganhar a Copa agora do que em 2002", afirma.

No torneio de 12 anos atrás, Ronaldo foi o artilheiro, com oito gols, e o Brasil derrotou a Alemanha na decisão.

"A seleção brasileira atual é muito equilibrada. Acho que é a mais equilibrada de todas as Copas. Temos os melhores zagueiros do mundo, laterais, um meio-campo consistente e atacantes incríveis. Não falta nada", finalizou.

Presidência da CBF

Ronaldo disse não ter intenção de comandar o futebol brasileiro. "Ninguém vai chegar para mim e dizer: Toma aí a CBF [Confederação Brasileira de Futebol] para administrar'", afirmou, deixando claro não querer ser presidente de clube ou de uma federação estadual.

Ele sorriu ao ser ler lembrado da frase do ex-treinador e atual coordenador técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, de que a CBF é o "Brasil que dá certo".

"Se a CBF for o que de melhor nós temos, estamos mortos", brincou.

Bom Senso

Um dos nomes mais conhecidos da história do futebol brasileiro, Ronaldo disse apoiar o movimento Bom Senso. Trata-se da organização de atletas profissionais do país para melhorar o calendário e as condições de trabalho dos jogadores.

No Corinthians, entre 2009 e 2011, ele foi companheiro do zagueiro Paulo André, um dos principais líderes do movimento. "É muito importante. O que está acontecendo no nosso país, está acontecendo também no futebol", comparou, lembrando a onda de protestos nas ruas do país.

"O que esse movimento quer é ser ouvido. Só 10% dos jogadores profissionais ganham mais de R$ 10 mil [mensais. Os outros 90% recebem apenas um ou dois salários mínimos", afirmou.


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