Acionistas sabiam de suborno, afirma doleiro
Segundo Youssef, 2 cotistas da Camargo Corrêa aprovavam propina para obter contratos
O doleiro Alberto Youssef relatou que dois acionistas da Camargo Corrêa sabiam e aprovavam o pagamento de propina para que a empreiteira conseguisse contratos com a Petrobras.
Segundo depoimento do doleiro, parte de acordo de delação premiada, os acionistas Carlos Pires e Luis Nascimento "tinham conhecimento integral do assunto, sendo previamente consultados acerca das comissões".
Youssef já havia dito que tratou de propina com a cúpula da Camargo: João Auler, presidente do conselho, Dalton Avancini, presidente da empreiteira, e Eduardo Leite, vice. Os dois últimos fecharam acordo de delação premiada último dia 27, pelo qual prometem contar o que sabem em troca de pena menor.
A declaração sobre os acionistas está na íntegra da delação premiada de Youssef, peça que o STF (Supremo Tribunal Federal) tornou pública nesta segunda-feira (9).
O doleiro disse que foi ele quem sugeriu à Camargo Corrêa que adquirisse tubos da Sanko Sider para embutir, no pagamento à empresa, comissões que ele já havia pago a funcionários públicos e políticos, mas não havia recebido por causa de problemas que a empreiteira enfrentava junto à Polícia Federal.
Segundo Youssef, a Camargo atrasara o "pagamento de comissões" por causa da Operação Castelo de Areia.
A Castelo de Areia foi deflagrada em 2009 para apurar o pagamento de propina e lavagem de dinheiro por parte da Camargo Corrêa, mas a investigação foi anulada em 2011 porque o Superior Tribunal de Justiça considerou que a PF havia realizado escutas telefônicas ilegais.
Youssef diz que a Camargo Corrêa lhe devia R$ 15 milhões, propina que ele afirma ter pago por contratos da Repar, refinaria no Paraná.
A Sanko é acusada de repassar R$ 33 milhões ao doleiro simulando a prestação de serviços. O próprio Youssef já afirmou que não prestou serviço algum à empresa.
ABREU E LIMA
O doleiro relata que o Consórcio Cnec, controlado pela Camargo Corrêa, pagou 1% de suborno para conseguir um contrato na refinaria Abreu e Lima (PE) no valor de R$ 3,4 bilhões --o que corresponderia a R$ 34 milhões.
Youssef só menciona uma comissão mais alta do que essa. Segundo ele, a Odebrecht e a OAS acertaram suborno de R$ 45 milhões por dois contratos de Abreu e Lima no valor de R$ 4,5 bilhões.
O doleiro afirma, no entanto, que o valor da propina acabou reduzido para R$ 20 milhões porque Márcio Faria, diretor da Odebrecht, disse que parte do recurso deveria ser enviado a Pernambuco para resolver problemas que poderiam prejudicar a obra.
O advogado da Camargo Corrêa, Celso Vilardi, diz que a acusação é mentirosa: "É palavra de quem ouviu dizer e o Supremo decidiu que o simples ouvir dizer não serve para iniciar uma apuração".
A Odebrecht também diz que Youssef mente e nega ter pago propina por contratos. A OAS não se pronunciou.