Costela e celular faziam parte da rotina dos presos, diz delator
Segundo Costa, aparelho era entregue a Youssef e depois recolhido
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em depoimento que um telefone celular e comida fora do padrão da carceragem, como costela, foram entregues aos presos na Superintendência da Polícia Federal no Paraná, onde estão parte dos acusados na Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras.
Costa ficou no local até 1º de outubro. Ele deixou a carceragem após fechar acordo de delação premiada e está em prisão domiciliar, no Rio.
No depoimento, disse ter visto um celular na cela 3, onde estavam o doleiro Alberto Youssef e o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa.
Segundo o ex-diretor da Petrobras, Youssef afirmou ter providenciado a entrada do aparelho na carceragem.
No depoimento, Costa admitiu que também usou o celular para falar duas vezes com a família. Disse ainda que o aparelho não ficava o tempo todo na carceragem, mas sim entregue a Youssef e depois recolhido.
O preso que mais usou o aparelho foi o doleiro Raul Srour, já libertado após pagar fiança, afirmou o executivo.
Segundo o relato, Youssef era o único que tinha dinheiro no local e pagava comida para os presos, entregue por carcereiros. Em uma ocasião, eles comeram costela, disse.
ASILO
No testemunho, Costa disse que um carcereiro chamado Benites pediu doações sob o argumento de que as contribuições eram para um asilo que contava com a ajuda dele. O ex-diretor disse que atendeu ao pedido, e a filha dele fez dois depósitos, de R$ 1 mil e R$ 2 mil, para o agente.
O executivo confirmou ainda que recebeu suborno na conta de uma empresa aberta por ele, a Costa Global.
Ele citou contrato de 2013 da Camargo Corrêa, de R$ 3 milhões, no qual a prestação de serviços se resumiu, segundo Costa, "a três reuniões de planejamento estratégico para as quais seria justo receber cerca de R$ 100 mil".
O executivo contou que o dinheiro da Costa Global foi usado para comprar uma casa em Angra dos Reis (RJ), no valor de R$ 3 milhões, e uma lancha de R$ 1,1 milhão.
A PF não se pronunciou sobre a rotina dos presos. O advogado de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, diz que a PF já investigou o uso de celular e concluiu que Costa usou "muito mais" o aparelho do que Youssef.
Sobre os supostos pedidos de comida, Basto disse: "Posso garantir que o meu cliente nunca comeu costela lá".
A Camargo Corrêa diz que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações. (FLÁVIO FERREIRA E MARIO CESAR CARVALHO)