Petrolão
'Existe uma hora de falar e uma hora de calar', diz ex-diretor à CPI
Duque, que está preso, negou que sua mulher tenha procurado Lula para que ele fosse solto
Ele afirmou ter a 'consciência tranquila' para rebater as acusações, mas se recusou a comentá-las
Acusado de receber propina e repassar parte ao PT no esquema de corrupção da Petrobras, o ex-diretor da estatal Renato Duque passou a maior parte do tempo calado em depoimento à CPI da Petrobras nesta quinta (19), mas afirmou estar com a "consciência tranquila" e ter "argumentos suficientes" para rebater as acusações.
Duque negou, depois de questionado por deputados, que ele ou sua mulher tenham parentesco com o petista José Dirceu e que ela tenha procurado o ex-presidente Lula para pedir ajuda para que fosse solto.
Preso na última segunda (16) na décima fase da Operação Lava Jato, Duque foi conduzido nesta quinta da carceragem da Polícia Federal em Curitiba até a Câmara para ser ouvido pela CPI.
Ex-diretor de Serviços da Petrobras, ele é apontado pelo ex-gerente Pedro Barusco, seu subordinado à época, como beneficiário de propinas. Ele nega a acusação.
Duque começou a falar por volta das 10h30. Ao ser apresentado, já adiantou: "Existe uma hora de falar e uma hora de calar. Esta é a hora de calar, do meu ponto de vista. Eu estou sendo acusado, me encontro preso, então por esse motivo é que eu estou exercendo meu direito constitucional ao silêncio".
Ao fim do seu depoimento, por volta das 14h30, ele afirmou que seguiu orientação dos advogados e que calar não era uma declaração de culpa. "Não tenho problema nenhum em discutir qualquer um dos assuntos aqui levantados porque eu tenho a consciência tranquila, sei como responder e tenho argumentos para rebatê-los".
Nessas quatro horas de depoimento, o ex-diretor foi criticado pelos parlamentares por permanecer em silêncio. Só se pronunciou, porém, quando os questionamentos envolveram sua família.
Como quando foi questionado pelo deputado federal Izalci (PSDB-DF) sobre ele ou sua mulher serem parentes de José Dirceu. "Uma questão de parentesco é uma questão de árvore genealógica, basta olhar a árvore genealógica de um e de outro", disse.
Em outro momento, a deputada Eliziane Gama (PPS-MA) lhe questionou sobre seu filho ter trabalhado para a empresa francesa Technip, que fechou contratos sem licitação com a Petrobras.
"Quando ele foi recrutado para trabalhar nessa empresa nos EUA eu fiz uma consulta formal ao jurídico da Petrobras se haveria algum empecilho, falaram que não tinha problema", disse.
O maior dos contratos, para a instalação e recolhimento de dutos, foi assinado por R$ 194 milhões. O outro, no valor de R$ 8 milhões, referia-se a afretamento de embarcações. Procuradas, Petrobras e Technip não responderam.
Duque ganhou uma Bíblia do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), com um recado para que lesse um provérbio.
"Está escrito assim 'aquele que confessa [seu pecado] e o deixa alcançará a misericórdia'", afirmou Feliciano.