Petrolão
Entregador reforça suspeita de repasse de propina no exterior
Funcionário do doleiro Alberto Youssef que entregou dinheiro até fora do país colabora com as investigações
Depoimentos podem ajudar a rastrear pagamentos que teriam sido feitos pela Odebrecht e pela OAS
Depoimentos de um funcionário do doleiro Alberto Youssef que entregou dinheiro a beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras, Rafael Angulo Lopez, reforçam suspeitas de que as empresas Odebrecht, Braskem e OAS tenham feito repasses de propina ligada a contratos da estatal para contas no exterior.
Lopez, que fez acordo de delação premiada, disse que entregou dados para depósitos fora do país e recolheu comprovantes de transferências para o exterior em escritórios da empreiteira Odebrecht e da petroquímica Braskem, empresa em que a Odebrecht é sócia da Petrobras.
Detalhes dos depoimentos de Lopez foram antecipados pela revista "Veja" na edição desta semana. A Folha apurou que Lopez também relatou a procuradores da Operação Lava Jato que entregou dinheiro no Brasil e no exterior por indicação de representantes da OAS no Peru, no Panamá e em Trinidad e Tobago.
Segundo o delator, a OAS tinha uma espécie de "conta corrente" com Youssef.
Na delação, ele disse ainda que esteve várias vezes no escritório da OAS em São Paulo, desde 2012, para levar e recolher valores em espécie, dólares, euros e reais, em montantes que variavam entre R$ 300 mil e R$ 500 mil.
Funcionário de Youssef desde 2005, Lopez prestou mais de 30 depoimentos em março, com o objetivo de obter redução de pena nas ações criminais da Lava Jato.
Investigadores consideram a colaboração importante porque Lopez tem condições de reconhecer pessoas, locais e papéis relativos a operações das quais participou pessoalmente, e para as quais há maior dificuldade de apuração, como as relativas a repasses fora do Brasil e à entrega de dinheiro em espécie.
Em seus testemunhos, o delator afirmou que esteve várias vezes nos escritórios da Braskem, em 2008 e 2009, e da Odebrecht, entre 2010 e 2012, para se encontrar com Alexandrino de Alencar --atual diretor de relações institucionais da Odebrecht-- com o objetivo de entregar informações sobre contas para transferências no exterior e retirar comprovantes de repasses feitos fora do Brasil.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que também fez acordo de delação premiada, já havia relatado que recebeu suborno de mais de US$ 30 milhões da Odebrecht em contas na Suíça, e que propinas da Braskem e da Odebrecht remetidas ao exterior se misturavam, "visto que são empresas do mesmo grupo".
Segundo Costa e Youssef, a Braskem pagou suborno para ter vantagens ligadas a contratos de compra de matéria-prima da Petrobras, e as reuniões para tratar do assunto começaram em 2006 com Alexandrino de Alencar.