Dinheiro viajava escondido sob as roupas
A rotina dos entregadores do doleiro Alberto Youssef envolvia o desconforto para levar centenas de notas presas ao corpo e situações como o encontro com um político odiado e uma confusão com a tripulação de um avião.
Em depoimentos e conversas com investigadores e advogados, Rafael Angulo Lopez, funcionário de Youssef que fez acordo para colaborar com as apurações, explicou como era possível levar até € 1 milhão (cerca de R$ 3,5 milhões) em notas de € 500, ou R$ 500 mil em notas de R$ 100.
A estratégia era compactar ao máximo o dinheiro.
As notas eram envolvidas com filme plástico usado para embalar alimentos e os volumes furados, para tirar o ar. Meias elásticas e coletes ortopédicos ajudavam a ocultar os pacotes sob as roupas.
Lopez disse que uma vez ficou contrariado ao levar uma quantia para o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL), pois teve o dinheiro de sua caderneta de poupança confiscado em 1990 no governo Collor.
O entregador disse ao doleiro que não iria levar o dinheiro, mas o chefe insistiu. Lopez afirmou que então fez a entrega a Collor no apartamento dele, e ao se dirigir para a saída, resmungou: "Velho gordo!"
O delator também relatou uma ocasião em que outro emissário de Youssef, Adarico Negromonte, foi encarregado de levar R$ 500 mil a Salvador. Ele embarcou no avião errado, rumo a Maringá (PR), e discutiu com os tripulantes do avião, mas não conseguiu trocar de aeronave e foi obrigado a ir até o Paraná e voltar.
O ex-presidente Collor nega ter recebido propina do esquema de corrupção e diz que o encontro relatado por Lopez não aconteceu. Negromonte afirma que o episódio descrito por Lopez não ocorreu.