Suíça investiga delatores que citaram Cunha
Alvos são as contas usadas por Eduardo Musa e Julio Camargo para receber propina do esquema da Petrobras
Leonardo Meirelles, ex-sócio do doleiro Alberto Youssef, disse à CPI que entregou provas de pagamentos a Cunha
As autoridades suíças investigam Eduardo Musa e Julio Camargo, delatores da Lava Jato que citaram o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em seus depoimentos no Brasil.
A Procuradoria-Geral da Suíça confirmou à Folha que o alvo principal são as contas bancárias no país usadas por ambos para receber propina do esquema de corrupção que envolvia a empresa.
Segundo a procuradoria, os bens de Musa na Suíça foram bloqueados no âmbito de uma ação criminal. Engenheiro e gerente da área internacional da Petrobras entre 2006 e 2009, Musa entregou às autoridades brasileiras informações sobre depósitos feitos em contas na Suíça por meio de offshores. Contou que ainda tinha pelo menos US$ 2,5 milhões depositados em uma conta no banco Cramer.
O ex-gerente da Petrobras afirmou, em depoimento, que o atual presidente da Câmara tinha a "palavra final" na indicação para a diretoria Internacional da estatal. Um dos responsáveis por indicar nomes à diretoria seria o lobista João Augusto Rezende Henriques, preso na segunda-feira (21).
Eduardo Musa afirmou que no esquema para receber recursos na Suíça usou os bancos Credit Suisse, Cramer e Julius Bar. Ele se comprometeu a repatriar US$ 3,2 milhões e recolher R$ 4 milhões à Justiça brasileira.
Segundo o Ministério Público da Suíça, "procedimentos criminais" estão sendo adotados contra o lobista Julio Camargo no país.
Camargo acusa Cunha de ter recebido R$ 5 milhões desviados da Petrobras. O lobista admitiu ter usado contas na Suíça para receber propina do esquema.
O presidente da Câmara foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao STF (Supremo Tribunal Federal), que aguarda sua defesa formal. Ele nega as acusações.
PROVAS
À CPI da Petrobras o ex-sócio do doleiro Alberto Youssef Leonardo Meirelles afirmou nesta quinta-feira (24) que entregou provas ao Ministério Público sobre a operação de transferência de recursos destinados a pagar propina a Cunha.
Meirelles afirmou que não poderia dar detalhes das supostas provas porque está negociando um acordo de delação premiada que inclui essas informações.
O operador chegou a viajar para a China para levantar informações de contas bancárias que mantinha naquele país para entregar aos procuradores.
Meirelles se tornou sócio de Youssef no laboratório Labogen, que tentou produzir medicamentos em parceria com o Ministério da Saúde, mas a parceria foi suspensa depois da Lava Jato.
Ele relatou que Youssef o procurou para que, por meio de suas empresas, auxiliasse na lavagem de recursos ilícitos do doleiro.