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Falhas do Enem viram vidraça de Haddad

Exame do ensino médio foi incrementado a partir de 2009, mas apresentou problemas como vazamento de provas

Rivais de ex-ministro da Educação devem usar erros na gestão da prova para atacá-lo na corrida à Prefeitura de São Paulo

ANTONIO GOIS
DO RIO

Um almoço no início de 2009 no gabinete do então ministro da Educação, Fernando Haddad, selou o destino do exame que agora virou uma fonte de dores de cabeça para sua campanha à Prefeitura de São Paulo.

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi criado em 1998, no governo Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de substituir gradualmente os vestibulares.

Mas poucas universidades públicas haviam aderido integralmente a ele em 2009, alegando que ele não selecionava os melhores alunos.

Apesar disso, parte dos reitores cobrava que o MEC centralizasse os vestibulares das instituições. O caminho natural era reformular o Enem.

Haddad ouviu três propostas durante o almoço: acelerar a realização do exame em 2009, adiar a ideia para 2010, ou deixar tudo para 2011, quando um novo governo tomaria posse.

Poucos apostavam que o ministro seguiria no cargo se Dilma Rousseff fosse eleita presidente. Optou-se então pela sugestão do então presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, de fazer tudo logo.

Haddad e Fernandes diziam que era preciso tomar uma decisão ousada, sob o risco de a ideia se perder.

Após a garantia do Inep de que tinha condições de garantir a logística necessária para realizar a prova, Haddad pisou no acelerador. Com o ano letivo já iniciado, mudou o conteúdo da prova, mobilizou reitores para aderir ao formato e agilizou a licitação.

Duas empresas disputavam. Haddad e Fernandes davam como certa a vitória da mais experiente, mas, a dois meses da prova, a fundação Cesgranrio desistiu da disputa, alegando falta de tempo para realizar o exame.

O Enem caiu então no colo de um consórcio inexperiente, o Connase. O teste vazou, teve de ser cancelado e reaplicado mais tarde.

A gráfica Plural, parceria do grupo Folha com a Quad Graphics, foi contratada pelo consórcio para imprimir as provas. A Plural diz que o vazamento ocorreu na fase de manuseio da prova, etapa que já não era de sua responsabilidade, mas do consórcio.

Procurado pela Folha para falar sobre o Enem na semana passada, Haddad não quis se manifestar. Em entrevistas anteriores, ele sempre elogiou o exame e criticou o exagero na cobertura de problemas "pontuais".

Em 2010, provas e cartões de resposta saíram com erro e alguns alunos (0,1%) tiveram de refazer o teste. Em 2011, alunos de um colégio de Fortaleza tiveram acesso antecipado a 14 questões.

Haddad já admitiu em conversas reservadas que seus críticos têm razão ao dizer que o Enem carece de um banco de questões com número suficiente de perguntas para permitir a realização de mais de uma prova por ano.

A realização de duas ou mais provas por ano reduziria a tensão dos estudantes que dependem do Enem para entrar na universidade, oferecendo novas oportunidades de fazer o exame.

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