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Lanchas são 'sucesso', diz ex-ministro

Um dos 28 barcos comprados pela pasta da Pesca está sem uso há 21 meses na Bahia; outros 4 continuam no fabricante
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Altemir Gregolin, que realizou a compra de R$ 31 mi, minimizou falta de uso de parte das embarcações

DE SALVADOR
DE BELÉM
DE SÃO PAULO

O ex-ministro da Pesca Altemir Gregolin, responsável pela compra de 28 lanchas para a pasta, classifica a iniciativa como "sucesso" -embora parte das embarcações tenha ficado abandonada sob a guarda de órgãos públicos pelo país e outra não tenha nem deixado o fabricante.

Uma das lanchas nunca foi usada e "descansa" há 21 meses em uma marina de luxo de Simões Filho (região metropolitana de Salvador). Sem capa protetora, também não recebe manutenção.

Para o dono da marina, Antônio Barreto, o barco se tornou um "hóspede indesejado" porque o governo federal nunca pagou nenhuma das mensalidades de R$ 756 para a permanência. Segundo ele, a dívida ultrapassa R$ 15 mil.

"O barco só sai quando pagarem o que devem", disse.

Indagado em 2011 pelo Tribunal de Contas da União, que investiga o caso, o ministério informou que o barco seria destinado à Marinha.

O 2º Distrito Naval, em Salvador, disse não ter sido informado de que a receberia. A Pesca não respondeu questões enviadas pela Folha.

Situação parecida ocorreu no Pará. Uma lancha enviada ao Estado em 2009 passou 11 meses estacionada numa marina de Belém, com motor avariado após um acidente, até ser entregue à Marinha.

O Ministério da Pesca mandou outra lancha para Belém neste ano. As duas agora estão na Capitania dos Portos.

No domingo, a Folha mostrou que outras quatro lanchas nem sequer foram buscadas pelo ministério e sofrem ação do tempo sob guarda do fabricante, há um ano, próximo a Florianópolis.

Em auditoria, o TCU apontou que 23 das 28 lanchas, compradas por R$ 31 milhões, estavam fora de operação.

Gregolin disse que os dados estão desatualizados. "O programa de fiscalização é um sucesso. Todas as lanchas estão sendo utilizadas." Ele afirmou que os órgãos que ficam responsáveis pelas embarcações após assinar termo com o ministério elogiam a qualidade dos veículos.

Questionado sobre o fato de haver, sim, barcos fora de uso, ele minimizou. Disse que as lanchas sob guarda do fabricante devem ter um destino em breve. Sobre as outras: "Existe uma questão burocrática que dificulta as coisas".

As lanchas ganharam notoriedade após o empresário que as produziu revelar que doou R$ 150 mil ao PT de Santa Catarina nas eleições de 2010, a pedido do ministério. O dinheiro ajudou a bancar a campanha da hoje ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) ao governo -ela perdeu a eleição e foi ocupar justamente a pasta da Pesca.

Gregolin, do PT, nega relação com o pedido e rechaça a avaliação do TCU de superfaturamento e direcionamento na licitação.

(GRACILIANO ROCHA, AGUIRRE TALENTO E RODRIGO VIZEU)

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