EUA não podem 'matar' compromissos, afirma negociador chinês

Os Estados Unidos e demais países ricos não podem usar a crise econômica para "fugir de compromissos" de ajuda aos pobres assumidos durante e depois da Eco-92, disse à Folha La Yifan, chefe da equipe de negociadores chineses na Rio+20.

"Esta conferência não é um lugar para matar aquilo com que a comunidade internacional concordou e se comprometeu há 20 anos. A posição de certos países de recuar nos princípios acordados não é popular nem amplamente aceita", afirmou La.

Ele se referiu, "em particular", ao princípio das "responsabilidades comuns, mas diferenciadas", pelo qual os ricos devem pagar a maior parte dos custos da transição para o desenvolvimento sustentável, devido a seu passivo de consumo excessivo e destruição ambiental.

"A responsabilidade moral e legal dos países desenvolvidos em termos de cooperação para o desenvolvimento não deve ser rompida. Apesar de a cooperação sul-sul estar aumentando, ela não substitui a cooperação norte-sul."

O chinês contestou o argumento de que os emergentes -e sobretudo a China, hoje a segunda maior economia do mundo- já têm condições de dividir esses custos. "Somos um país em desenvolvimento. No ranking do Banco Mundial, nossa renda per capita está além da 100ª posição."

La Yifan participou de uma apresentação dos investimentos chineses em energia limpa e numa "economia circular", baseada na reciclagem. Uma das metas do país, hoje o maior emissor em termos brutos (mas não per capita), é reduzir a emissão de gás carbônico em 16% até 2020.

CONSUMO

O negociador disse que, "em nosso benefício e no das próximas gerações", Pequim sabe que não poderá dar ao 1,3 bilhão de chineses os padrões de consumo dos ricos.

"Toda pessoa, seja chinês, brasileiro ou indiano, tem direito de desfrutar de uma vida melhor. No entanto, estamos cientes de que devemos tomar o caminho do desenvolvimento sustentável. Cabe aos países desenvolvidos dar um bom exemplo, mudando seus padrões, em vez de pressionar os brasileiros, os indianos, dizendo que não devem gozar a vida que eles desfrutam."