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Censo aponta queda no número de católicos pela 1ª vez no Brasil

Movimento foi acompanhado pelo crescimento de evangélicos, especialmente nas periferias

Entre 1960 e 2010, participação dos católicos na população brasileira passou de 93,1% para 64,6%

DENISE MENCHEN
FABIO BRISOLLA
DO RIO

Após décadas perdendo espaço no Brasil, o catolicismo assistiu no começo deste século à primeira redução no seu número de fiéis no país.

Segundo dados do Censo, a religião perdeu 1,7 milhão de adeptos entre 2000 e 2010. Com o recuo, o número de católicos no país chegou a 123,3 milhões -64,6% da população. Até 1970, essa proporção superava os 90%.

O movimento foi acompanhado pela expansão das religiões evangélicas, que atraíram 16,1 milhões de fiéis em dez anos e hoje somam 42,3 milhões (22,2% da população). Os grupos de sem-religião e espíritas também tiveram crescimento, embora tenham peso menor no cenário nacional (8% e 2%).

Dentre as religiões evangélicas, as que tiveram maior expansão foram as de origem pentecostal, como Assembleia de Deus e Evangelho Quadrangular. As chamadas religiões evangélicas de missão, como a adventista, a luterana e a batista, registraram oscilações menores.

O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, diz que, mantida a tendência das últimas décadas, o número de evangélicos irá superar o de católicos em 20 ou 30 anos. "O maior país católico do mundo vai deixar de ser católico", afirma.

Para isso, pesa o fato de que as religiões de origem pentecostal têm forte presença entre a população jovem, especialmente entre as mulheres em idade reprodutiva, que tendem a criar os filhos na mesma religião.

Alves explica que a perda de espaço do catolicismo é um fenômeno presente no país desde a proclamação da República, quando houve a separação entre Estado e Igreja. A migração de colonos de países como Alemanha e Japão também colaboraram para diminuir a hegemonia absoluta dessa religião.

Apesar disso, 89% ainda se diziam católicas em 1980. A partir daí, as mudanças começaram a acontecer em ritmo mais rápido, com os evangélicos ganhando espaço principalmente nas periferias das zonas urbanas.

Desde que assumiu a Igreja Católica, em 2005, o papa Bento 16 costuma dizer que prioriza a "qualidade de seus fiéis", não a quantidade.

Para o padre Thierry Linard, designado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para comentar a pesquisa, os dados refletem uma "falha institucional" da Igreja Católica.

Na avaliação dele, a instituição não soube acompanhar as migrações que ocorreram tanto para a periferia das grandes cidades do Sudeste quanto para as regiões Norte e Centro-Oeste do país.

"A Assembleia de Deus tem bem mais penetração na periferia. Onde surge uma comunidade, logo surge uma igrejinha", comparou, dizendo que, na Igreja Católica, a "estrutura é mais pesada".

Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, diz que as religiões evangélicas avançam sobre as periferias e a nova classe média com a "teologia da prosperidade", que promete a melhoria de vida para os fiéis.

Entre os Estados, o Rio Grande do Sul é o que reúne os municípios com maior concentração relativa de católicos, evangélicos, umbandistas e candomblecistas, além de pessoas sem religião.

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