Índice geral Poder
Poder
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Eleições 2012

Na rua, candidato dá autógrafos e repete script da TV

Russomanno mantém na campanha polêmico estilo 'pé na porta' e fiscaliza de lojas a unidade de saúde

Sob a mira de câmeras, líder nas pesquisas recebe toda sorte de pedidos e indica instituto do consumidor

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

"Você conhece o 'Balanço Geral', da TV Record. Ele vem aí. Ele vai ser nosso próximo prefeito", anunciava quarta-feira um carro de som no Grajaú, extremo sul da cidade.

Com o cabelo cuidadosamente penteado, vestindo jaqueta de couro, camisa social, calça jeans e sapato bico fino, Celso Russomanno, 56, desembarcou de um utilitário esportivo preto para subir no jipe de uma carreata.

Uma equipe de dez pessoas cuida da captação de imagens do candidato em visitas. A primeira parada foi numa Unidade Básica de Saúde.

Russomanno foi direto para a gerência investigar um problema crônico do sistema público de saúde: a demanda maior que a estrutura do atendimento. Muita gente que estava na fila (40 pessoas, aproximadamente) exaltou-se com sua presença.

Ao sair do encontro, ele foi abordado pelo motorista aposentado José Cardoso Filho. A queixa: "O soro do meu filho que está internado acabou e agora ele está sangrando. Preciso falar com os médicos, mas não consigo".

Sob a mira das lentes, Russomanno voltou a entrar na UBS "para resolver". "Se der certo, meu voto é dele", disse, ao fim, Cardoso Filho.

No último mês, outra UBS, uma unidade das Casas Bahia e outra das Lojas Marabraz receberam visitas desse tipo.

"Não sou um político. Sou um artista, dou autógrafos. É assim que sou visto na rua pelo povo", diz Russomanno, sobre os motivos que o colocam no topo das pesquisas à Prefeitura de São Paulo.

Para ele, é impossível dissociar a performance atual da carreira na TV. São 22 anos, com o polêmico estilo "pé na porta" que lhe valeu a fama de defensor do consumidor.

Em julho, um dia depois do enterro de sua mãe, Russomanno reclamou do serviço funerário. Em agosto, incluiu o exame de ultrassom da mulher, grávida de oito meses, na agenda da campanha.

Para quem conhece sua trajetória, não chega a ser novidade. Ele ganhou projeção quando filmou e colocou no ar imagens do hospital São Camilo, onde sua ex-mulher morreu com infecção generalizada decorrente de meningite, em 1990. Um processo foi instaurado. O Tribunal de Justiça absolveu o hospital.

Assim Russomanno explica sua técnica de abordagem: "Eu entro sem pedir autorização. Se avisar que estou a caminho com minha equipe, a instituição que vou visitar vai aparecer toda maquiada".

MARKETING

"O Russomanno não precisa se tornar conhecido. Todo mundo sabe quem ele é. Trata-se de um caso de marketing às avessas", diz Ricardo Bergamo, o marqueteiro da campanha. "E ele já tem um discurso pronto, a gente não precisa brifá-lo. Mexer nisso seria censurar o candidato."

Afinal, diz, trata-se de uma campanha cujo tema central é a insatisfação com a qualidade do serviço público.

Na última semana, a Folha acompanhou as visitas de Russomanno a um bairro da periferia (Grajaú), de classe média (Ipiranga) e a uma palestra para alunos da FGV.

Ele ouviu toda sorte de pedidos. Da professora aposentada Maristela Ferreira da Silva, 60, para melhorar o salário da categoria. Do cobrador de ônibus Roberto Vicente, 27, menos ruas esburacadas.

Russomanno costuma conversar com todos. E tira fotos.

Quando se trata de uma queixa pontual sobre direitos do consumidor, entrega um cartão do Inadec, ONG fundada por ele e especializada no atendimento ao consumidor. Funciona desde 1990 e recebe, segundo afirma, de 50 a 100 pessoas por dia.

Ou então a resposta vem em forma de promessas. Russomanno diz que, se vencer, as escolas municipais amanhecerão com um novo sistema, com alunos e professores cobrados diariamente.

Diz que médicos da rede pública terão salários superiores aos que ganham atendendo a demanda privada.

A garantia que oferece é de que irá cuidar dos assuntos pessoalmente, inclusive com visitas não agendadas -como faz em seus programas.

O candidato convenceu mais no Grajaú. "Esse cara é xarope. Você já viu ele na TV? Defende o consumidor pra valer", disse Ezequiel Procópio, balconista de loja e membro da Assembleia de Deus.

Menos entusiasmada era Stephany Goulart, estudante de direito e balconista no mercadinho do pai. "Em um bairro como este, infelizmente a carreata ainda tem influência. As pessoas gostam de festa, de celebridade."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.