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Análise

Transferência de votos volta à tona com o início do segundo turno

Não há qualquer razão para acreditarmos que tenha se estabelecido um padrão para essa transferência

VITOR MARCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma pergunta recorrente sobre nosso sistema político e eleitoral trata da capacidade de algumas lideranças políticas efetivamente liderarem seus eleitores. Parte da pergunta refere-se à capacidade deles para conquistarem votos não só para si, mas também para candidatos apoiados por eles. Em outras palavras, a transferência de votos.

O início do segundo turno em 50 cidades brasileiras reacende esse debate. Quantos dos eleitores que votaram em um determinado candidato derrotado em primeiro turno conduzirão seus votos no segundo turno pela sua indicação? Até o momento, não há qualquer razão para acreditarmos que tenha se estabelecido um padrão para essa transferência, o que significa dizer que seu (in)sucesso é conjuntural.

Tratando do caso das eleições paulistanas, por exemplo, há sinais de que os seus efeitos serão mínimos. Há certo padrão de votações na cidade de São Paulo que indicam que o eleitorado tem se distribuído de modo relativamente igual em três partes: eleitores tucanos, petistas e indecisos.

As eleições deste ano, ainda que Serra e Haddad tenham recebido menos de 33% dos votos válidos, ficou próxima desse padrão. Os eleitores indecisos, determinantes para o resultado eleitoral na cidade, se distribuíram, principalmente, para Russomanno, Chalita ou simplesmente para o alheamento. E o que as pesquisas acabaram indicando é que esses indecisos foram marcados por um alto grau de infidelidade.

A queda livre de Russomanno e o crescimento de última hora de Chalita traduzem bem esse comportamento. Esse cenário parece indicar que os votos recebidos por esses candidatos são menos deles e mais desse conjunto de indecisos.

Em um eventual cenário em que Serra ou Haddad não tivessem ido ao segundo turno teríamos mais elementos para especularmos sobre a capacidade deles para influir sobre os votos de seus eleitores na segunda etapa da eleição. Essas duas candidaturas parecem se sustentar em um eleitorado mais fiel.

As candidaturas derrotadas em primeiro turno parecem, assim, ter poucas condições para influir nas preferências de seus eleitores. Exceções podem ser as candidaturas dos partidos mais ideológicos, como PCO e PSTU. A baixa votação deles, porém, minimiza os seus efeitos sobre o novo turno.

Nesse contexto, as estratégias de Serra e Haddad deverão ir bem além das alianças partidárias que estão sendo firmadas para conquistar novos eleitores.

VITOR MARCHETTI é doutor em ciência política e professor de políticas públicas da UFABC.

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