São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2010

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JANIO DE FREITAS

O tudo ou nada


O DEM fez o que nunca fizera nem como o forte PFL; não há dúvida de que pegou Serra de surpresa


A VITÓRIA do DEM sobre o PSDB, impondo-se na indicação do candidato a vice contra a escolha feita pelo próprio José Serra, não era esperada por ninguém. Do DEM mesmo saíram sinais de conformismo, com a aceitação do anunciado senador Alvaro Dias para não sujeitar a risco a aliança com o PSDB.
A firmeza e a articulação do DEM revelaram também inesperada coragem. Sem condições de lançar-se de repente na aventura de uma candidatura própria à Presidência, ainda por cima o partido não tinha a possibilidade de outro rumo para sua aliança, com Dilma Rousseff por motivos óbvios e com Marina Silva por oposição dos demistas do agronegócio. O DEM fez o que nunca fizera nem quando era o forte PFL: foi para o tudo ou nada.
Não há dúvida de que pegou José Serra de surpresa. Não estivesse se supondo em segurança absoluta na escolha de Alvaro Dias, Serra não a teria feito da maneira impositiva e até humilhante em relação ao aliado DEM, que não mereceu nem sequer a consideração de uma conversa prévia e explicativa.
Mas, revendo-se um pouco do percurso em torno da chapa, o que se mostra é um encaminhamento deliberado de Serra até o que supôs ser a conclusão com alguém do PSDB ao seu lado.
Serra, relembremos, ficou no segmento do PSDB que, na eleição de 1994, não apoiou a aliança com o PFL e a consequente escolha de Marco Maciel para vice, feitas por Fernando Henrique Cardoso. Veio a fazê-las ele próprio depois, mas, para todos os efeitos públicos, como se restringisse sua aliança com o PFL/ DEM a Gilberto Kassab. Em todo o decorrer do preparo de sua candidatura à Presidência, Serra manteve o DEM à parte.
A aliança se formalizou com o DEM jogando-se no colo do PSDB, e recebido por alguns peessedebistas que não incluíam Serra. Conversas posteriores com demistas, só por iniciativa destes, sempre sem consequências. E nada de levar à mesa o assunto da vice. Sem razão alguma empurrado até o limite no calendário eleitoral.
E então a escolha de Alvaro Dias quando o DEM, tudo indicava, não teria condições e tempo para mais do que conformar-se. Assim como jamais quis Aécio Neves, José Serra não queria o DEM em sua chapa.
Comunicada a escolha de Alvaro Dias, vários a atribuíram ao cuidado de Serra em não comprometer sua chapa com um partido respingado pela corrupção escandalosa no governo do Distrito Federal.
Cuidado apreciável, mas o PSDB, Serra e ninguém menos do que Joaquim Roriz estão enlaçados em apoios mútuos no Distrito Federal.
O PSDB serrista foi presença marcante na convenção que lançou Roriz ao governo do DF em desafio à Lei da Ficha Limpa, sendo ele fugitivo recente do Senado para evitar a cassação por transações com dinheiros inexplicados.
Ainda na linha do não imaginado no desfecho Serra/DEM, a indicação e a adoção do deputado Indio da Costa como vice não perdem para as demais surpresas. Bastante moço, sem história política, e aparentemente também sem restrições, não está claro o que levou a esse nome. Nem o que o fez aceito, em vez dos outros indicados.
Talvez aqui esteja o motivo: se José Serra for eleito e, presidente, viajar, depois do primeiro ex-operário teremos também o primeiro Indio na Presidência.


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