São Paulo, quinta-feira, 01 de setembro de 2011

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Sob pressão, Banco Central corta taxa de juros para 12%

Copom aponta crise externa como justificativa para movimento surpreendente

Analistas temem perda de controle sobre a inflação e apontam falta de independência política da instituição

EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

O Banco Central decidiu ontem cortar a taxa básica de juros da economia de 12,50% para 12% ao ano, num movimento surpreendente um dia depois de a presidente Dilma Rousseff dizer que considera o país pronto para reduzir suas elevadas taxas de juros.
O corte é o primeiro feito pelo Copom (Comitê de Política Monetária) em dois anos e interrompe a série de aumentos sucessivos da taxa de juros iniciada em janeiro para combater a inflação, que ultrapassou a meta estabelecida pelo governo nos últimos meses.
A decisão do Copom não foi unânime. Cinco diretores do BC votaram pela redução dos juros e dois foram a favor da sua manutenção. O BC divulgou um extenso comunicado para justificar a medida, no lugar das notas lacônicas com que costuma anunciar suas decisões.
Segundo o BC, a "substancial deterioração" do cenário econômico nos países mais avançados vai reduzir o crescimento da economia mundial e ter impacto no Brasil. A redução dos juros agora ajudaria a atenuar esse impacto sem que a inflação escape ao controle, diz o BC.
No comunicado de ontem, o BC indicou que outro fator que influenciou sua decisão foi o anúncio feito pelo governo no início da semana, de que a arrecadação extra obtida neste ano será usada para abater a dívida pública em vez de aumentar os gastos do governo.
Analistas do mercado consideraram a decisão do Banco Central um movimento arriscado e o interpretaram como um sinal de que a diretoria da instituição cedeu a pressões que vinha sofrendo do governo para baixar os juros e evitar uma desaceleração muito forte da atividade econômica.
"A independência do BC está arranhada", afirmou o diretor da Quest Investimentos, Luiz Carlos Mendonça de Barros. "Ele é hoje um órgão auxiliar do Ministério da Fazenda."
O ex-presidente do BC Carlos Langoni acredita que o banco exagerou na sua avaliação do cenário externo e teme que os preços voltem a subir, porque a renda dos trabalhadores brasileiros continua em alta e os gastos do governo continuam crescendo, apesar do esforço feito para freá-los.
"Seria um grande retrocesso o BC voltar a atuar cedendo a pressões políticas", disse Langoni. "Isso teria consequências negativas para o crescimento de longo prazo que depende muito da expectativa de estabilidade."
A expectativa dos analistas é de que o Copom promova novo corte nos juros na sua próxima reunião, que está marcada para 18 e 19 de outubro.
No comunicado de ontem, o BC descreveu um quadro mais pessimista do que o retratado pelas projeções feitas pelo próprio governo na apresentação de sua proposta para o Orçamento-Geral da União do ano que vem.
Segundo o BC, a piora do cenário internacional contribuirá para "intensificar e acelerar" o processo de desaquecimento da economia brasileira.
No Orçamento, o governo prevê crescimento de 5% para o próximo ano, acima de todas as previsões do mercado e dos 4% esperados pelo governo para este ano.
Segundo o comunicado do BC, a crise global poderá atingir o Brasil com a redução dos fluxos de comércio exterior, "moderação" nos investimentos, condições de crédito mais restritas e "piora no sentimento" de consumidores e empresários.


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