São Paulo, quinta-feira, 01 de setembro de 2011

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JANIO DE FREITAS

O jogo pesado


Acentuada a crise que exige restrição nos gastos, Dilma passou a combater a aprovação da emenda 29


O TRANÇADO É forte, como requer uma nova investida, depois de tantas fracassadas, para liberação de cassinos e de outras casas de jogo. Não difere, porém, de ao menos duas das investidas anteriores: seu pretexto, mais uma vez, são verbas para a saúde. Mas a tentativa iniciada traz duas inovações: integra diferentes partidos em ação simultânea e, se não é, tem tudo de uma emboscada de parlamentares governistas para enlaçar o governo e, em particular, Dilma Rousseff.
O elemento-chave é uma alteração constitucional, a emenda 29, que eleva de cerca de 7% para 10% a obrigatoriedade da parcela orçamentária destinada à saúde. Candidata, Dilma se manifestou adepta de maiores verbas para o setor de saúde. Acentuada neste ano, porém, a crise que exige restrição nos gastos governamentais, Dilma passou a combater a aprovação da emenda 29.
Foi fixada agora a votação da emenda em 28 deste mês. Por decisão do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves; do líder do governo na Câmara, o petista Cândido Vaccarezza; do presidente do PDT, Paulo Pereira da Silva; e do presidente petista da Câmara, Marco Maia. Responsabilidade diluída e, se possível, inadmitida.
Dilma Rousseff deu a mais disponível de todas as respostas: então, que digam de onde virá o dinheiro para o aumento de gastos.
Com os ares mais ingênuos do acaso, foi imediata a coincidência das tréplicas. Vaccarezza relacionou suas hipóteses, começando pelo repudiado retorno da CPMF, passou pelo despropositado aumento do seguro obrigatório dos carros, para enfim chegar ao interessante: a volta do jogo.
Henrique Eduardo Alves, que é o aliado mais inimigo do governo, por isso mesmo é sempre o mais objetivo: "Não há chance de ressuscitar a CPMF, mas a legalização do jogo é diferente".
Paulo Pereira da Silva é mais preciso. Se não na veracidade, na aparência: "A legalização dos bingos renderia R$ 9 bilhões". Não se sabe se há estimativa de quanto renderia a uns quantos parlamentares por sua aprovação.
Dilma Rousseff tinha um problema com a emenda 29. Tem dois. Para nenhum dos dois pode contar, na Câmara, com o líder do governo e com o líder do maior partido "aliado", o PMDB.
Se o negócio é esse, Lula entraria logo com o seu compra-e-vende, que para isso cercou-se de 37 ministérios alimentados pelo Tesouro Nacional, ou seja, pelo nosso bolso. Veremos como Dilma Rousseff usa o seu poder contra desafios e armadilhas. Agosto, ainda bem, se foi. Mas setembro ameaça.


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