São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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Fraude em Dourados é maior, diz prefeita

Irregularidades aumentam a cada auditoria; em setembro, PF prendeu o antigo prefeito

RODRIGO VARGAS
DE CUIABÁ

Empossada há 24 dias, a nova prefeita de Dourados (250 km de Campo Grande), Délia Godoy Razuk (PMDB), 54, afirma que a lista de irregularidades encontradas na administração aumenta a cada nova auditoria realizada.
Por isso, diz ela, administrar a cidade nestas condições é conviver com uma rotina de "surpresas e situações inusitadas".
Dourados ficou sem comando após a Polícia Federal prender, em setembro, todo o comando da cidade -o prefeito Ari Artuzi (sem partido), seu vice e toda a Mesa Diretora da Câmara Municipal.
Investigação da PF aponta um suposto esquema que desviava recursos de contratos firmados pela prefeitura.
"Estamos fazendo uma radiografia geral na cidade, e, todos os dias, recebo levantamentos mostrando irregularidades", disse Délia, em entrevista por e-mail.
Délia foi a única, dentre os 12 vereadores da Casa, a não ser denunciada pelo Ministério Público por suspeita de envolvimento no suposto esquema que, segundo a PF, fraudava licitações e desviava verbas públicas.
Entre as "situações inusitadas", Délia cita uma injustificada compra de mais de cem liquidificadores pela Secretaria de Saúde. Os aparelhos, que estão há quase dois anos sem uso no almoxarifado do órgão, foram adquiridos com recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica.
Outro levantamento apontou que Artuzi usava a prefeitura como sede de reuniões nas quais fazia campanha política para aliados.
Segundo ela, os encontros eram realizados todas as manhãs e reuniam de 20 a 40 pessoas sob a justificativa de "apresentação de balanço administrativo". "Na verdade, era para pedir votos aos candidatos do ex-prefeito."
Artuzi está preso desde o dia 1º de setembro sob suspeita de chefiar o suposto esquema de fraudes.
Antes de Délia assumir, Dourados ficou 34 dias sob comando interino do juiz Eduardo Machado Rocha, diretor do fórum da cidade.
Ao sair, Rocha admitiu que poderia concorrer ao cargo, "se a politicagem voltar à prefeitura". Questionada, Délia disse não ver pressão alguma na declaração.
"A análise do juiz se deu num momento em que era exatamente essa a situação, a politicagem havia tomado conta e extrapolado nas ações administrativas."
Campeã de votos para a Câmara Municipal em 2008 -com 3.426 votos-, a nova prefeita diz que está preparada para a eventualidade de concorrer à prefeitura.

FEIJÃO COM ARROZ
Atualmente, porém, ela diz estar mais preocupada com a falta de dinheiro em caixa até o final do ano. Segundo Délia, existe "apenas o suficiente para atender o funcionamento da Saúde e concluir o ano letivo".
Sobre sua inexperiência no Executivo, a prefeita disse acreditar que o fato não será um "complicador". "A mulher já administra o lar, a família e o dia a dia em geral. No Executivo, quero aplicar o mesmo feijão com arroz que aprendi na vida."
Procurado pela Folha, o advogado Carlos Marques, que representa Artuzi, não respondeu aos recados. Em entrevistas anteriores, ele negou que Artuzi esteja ligado ao suposto esquema.


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