São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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RENATA LO PRETE

Um Senado para Dilma


Lula invoca o papel de vítima da Casa para tentar obter 60% das cadeiras

PARA JUSTIFICAR o empenho em dizimar a oposição no Senado, Lula tem dito e repetido que seu governo foi muito maltratado pela Casa, experiência da qual pretende poupar Dilma Rousseff. A análise retrospectiva, no entanto, mostra que o presidente exagera.
É verdade que no primeiro mandato houve a CPI dos Bingos, também chamada "do fim do mundo", dada a variedade de escândalos sobre os quais se debruçou.
Entre mortos e feridos, Lula sobreviveu e se reelegeu.
De 2007 para cá, a derrubada da CPMF foi a única contrariedade relevante que os senadores lhe impuseram. Um baque no orçamento da saúde, sem dúvida, mas bastante aliviado pelo vigor da economia e o crescimento da arrecadação.
As CPIs que o Planalto não conseguiu evitar, como a da Petrobras, nem de longe provocaram as turbulências do passado. Escolada, a tropa de choque governista utilizou manobras regimentais para esterilizar qualquer investigação.
Alguém poderá lembrar que o Senado convocou Dilma a explicar seu envolvimento na fabricação, pela Casa Civil, de um dossiê sobre gastos do casal Fernando Henrique e Ruth Cardoso.
O fato é que a então ministra, ajudada pelo despreparo dos interrogadores, saiu ilesa do depoimento.
No mais, de nomeações para tribunais e agências reguladoras à entrada da Venezuela no Mercosul, os senadores entregaram tudo o que o governo pediu.
Se foi assim nos últimos quatro anos, e se a onda, seja ela "vermelha" ou "continuísta", naturalmente desenha uma correlação de forças ainda mais confortável em caso de vitória petista, para que tanta gana?
Embora no calor do palanque Lula transmita a impressão de ressentimento, sua motivação é essencialmente objetiva. Ele invoca o papel de vítima do Senado para entrar de sola nas campanhas estaduais e ajudar a construir, para a eventual Presidência de Dilma, uma maioria ao redor de 60% das 81 cadeiras.
Da aprovação de emendas constitucionais ao eventual debate sobre a instalação de uma Constituinte exclusiva, tudo é viável quando se tem uma base como essa.
Ainda é cedo para prever o tamanho exato que alcançará essa maioria. O voto para o Senado tradicionalmente se consolida mais tarde que o dos demais cargos majoritários -e neste ano, diferentemente de 2006, o eleitor será instado a escolher dois senadores.
Até onde a vista alcança, porém, não há dúvida de que os governistas morderão muitas das vagas hoje ocupadas pela oposição.
Uma coisa é certa: a estratégia "take no prisioners" de Lula guarda menos relação com um passado de privações do que com um futuro cheio de possibilidades.


RENATA LO PRETE é editora do Painel

AMANHÃ EM PODER:
Jonathan Wheatley


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