São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

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Leal avalia que seria "traição" deixar vida pública após eleição

Empresário ajudou candidata verde a ampliar apoio

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

O empresário Guilherme Leal começou a calcular o resultado do investimento que decidiu fazer há cinco meses, quando se afastou dos negócios para entrar na política e ser o vice da candidata do PV a presidente, Marina Silva.
Se as pesquisas estiverem certas, Marina sairá da campanha com mais de 15 milhões de votos no cesto. Mesmo que sua participação na disputa se encerre amanhã, ela terá acumulado um capital político respeitável e Leal está começando a pensar no que poderá ser feito com ele.
"Um número muito expressivo de eleitores mostrou que está interessado na agenda que propomos", diz o empresário. "Seria traição dar adeus a essas pessoas e não fazer nada com isso depois que a eleição acabar."
Leal acredita que a campanha presidencial ajudou os verdes a atingir setores da sociedade que pareciam insensíveis à sua mensagem e deu ao grupo articulado em torno de Marina força para influir na discussão de políticas públicas em áreas como educação e proteção ambiental.
O empresário diz que é cedo para definir a maneira como esse grupo atuará, mas prevê a formação de uma rede de instituições que buscarão um "diálogo crítico" com o novo governo, seja quem for o vencedor da eleição.
"Ele viu na candidatura de Marina uma oportunidade para promover uma causa e agora terá mais força para continuar fazendo isso", diz o presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Oded Grajew, seu amigo há vinte anos.

ARRANHÕES
Um dos fundadores da fabricante de cosméticos Natura, de cuja administração se afastou com o início da campanha eleitoral, Leal hesitou durante meio ano até aceitar o convite de Marina para ser seu companheiro de chapa.
Avesso à exposição pública e dono de uma fortuna avaliada em R$ 1,2 bilhão, ele temia os problemas que seu ingresso na política poderiam trazer para a família, os sócios e a imagem da empresa que eles construíram. Encerrada a campanha, os arranhões são imperceptíveis.
Em meados de julho, Leal foi acusado de cometer crime ambiental numa fazenda onde está construindo uma casa e cinco bangalôs, no litoral da Bahia. Mas o Ibama recuou uma semana depois e declarou que não havia nada de errado na propriedade.
A Natura saiu da campanha praticamente intacta. Desde o anúncio da candidatura de Leal, as ações da empresa se valorizaram em quase 25%. No mesmo período, o índice que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bovespa subiu 11%.
O empresário teve influência em várias áreas da campanha dos verdes. Leal trabalhou para reduzir as resistências que Marina enfrenta no meio empresarial, levando-a pelo braço a jantares e reuniões com executivos, recrutou os profissionais de comunicação que a assessoraram e transferiu milhões de reais para os cofres do partido.
Até a primeira semana de setembro, data da última prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral, o comitê de Marina arrecadou R$ 13 milhões, dos quais R$ 7 milhões em contribuições de pessoas físicas. É certo que Leal estará no topo da lista de doadores quando ela for divulgada, em novembro.
O empresário também organizou a discussão do programa de governo de Marina e chamou à mesa colaboradores como o economista Eduardo Giannetti, que convenceram a candidata a se comprometer com os fundamentos de uma política econômica de perfil mais conservador do que o que ela chegou a defender no passado.

HABILIDADE
Além de financiar a campanha de Marina, Leal contribuiu com oito candidatos do PV a deputado federal. Ele espera que o partido saia das urnas com algo entre 17 e 20 representantes na Câmara. A bancada dos verdes em Brasília hoje tem 13 deputados.
A atuação do empresário provocou atritos às vezes. Um especialista em pesquisas chamado para ajudar Marina no início da corrida largou o emprego depois de se desentender com o empresário, segundo um colaborador da campanha. Também houve queixas de dirigentes do PV que ficaram sem espaço no centro de decisões.
Mas ninguém parece ter ficado muito magoado. "Para alguém que nunca tinha feito política antes, ele me surpreendeu pela habilidade que teve para lidar com o partido", afirma o ex-deputado Luciano Zica, um dos coordenadores da campanha.
Sem muito jeito para falar em público, Leal suou sempre que se viu obrigado a subir no palanque. Na convenção que oficializou a candidatura de Marina, ele interrompeu três vezes a leitura do seu discurso para se desculpar com a plateia por ter perdido o fio da meada.
Seus amigos admitem que ele não terá saudade dessa parte da sua primeira experiência política. Mas isso não significa que ele pretenda se afastar do novo universo em que entrou. "Posso continuar fazendo política de outras formas, mesmo sem ser candidato", diz o empresário.


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