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Leal avalia que seria "traição" deixar vida pública após eleição
Empresário ajudou candidata verde a ampliar apoio
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
O empresário Guilherme
Leal começou a calcular o resultado do investimento que
decidiu fazer há cinco meses,
quando se afastou dos negócios para entrar na política e
ser o vice da candidata do PV
a presidente, Marina Silva.
Se as pesquisas estiverem
certas, Marina sairá da campanha com mais de 15 milhões de votos no cesto. Mesmo que sua participação na
disputa se encerre amanhã,
ela terá acumulado um capital político respeitável e Leal
está começando a pensar no
que poderá ser feito com ele.
"Um número muito expressivo de eleitores mostrou
que está interessado na
agenda que propomos", diz o
empresário. "Seria traição
dar adeus a essas pessoas e
não fazer nada com isso depois que a eleição acabar."
Leal acredita que a campanha presidencial ajudou os
verdes a atingir setores da sociedade que pareciam insensíveis à sua mensagem e deu
ao grupo articulado em torno
de Marina força para influir
na discussão de políticas públicas em áreas como educação e proteção ambiental.
O empresário diz que é cedo para definir a maneira como esse grupo atuará, mas
prevê a formação de uma rede de instituições que buscarão um "diálogo crítico" com
o novo governo, seja quem
for o vencedor da eleição.
"Ele viu na candidatura de
Marina uma oportunidade
para promover uma causa e
agora terá mais força para
continuar fazendo isso", diz
o presidente do Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Oded Grajew, seu amigo há vinte anos.
ARRANHÕES
Um dos fundadores da fabricante de cosméticos Natura, de cuja administração se
afastou com o início da campanha eleitoral, Leal hesitou
durante meio ano até aceitar
o convite de Marina para ser
seu companheiro de chapa.
Avesso à exposição pública e dono de uma fortuna
avaliada em R$ 1,2 bilhão, ele
temia os problemas que seu
ingresso na política poderiam trazer para a família, os
sócios e a imagem da empresa que eles construíram. Encerrada a campanha, os arranhões são imperceptíveis.
Em meados de julho, Leal
foi acusado de cometer crime
ambiental numa fazenda onde está construindo uma casa e cinco bangalôs, no litoral da Bahia. Mas o Ibama recuou uma semana depois e
declarou que não havia nada
de errado na propriedade.
A Natura saiu da campanha praticamente intacta.
Desde o anúncio da candidatura de Leal, as ações da empresa se valorizaram em quase 25%. No mesmo período, o
índice que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bovespa subiu 11%.
O empresário teve influência em várias áreas da campanha dos verdes. Leal trabalhou para reduzir as resistências que Marina enfrenta no
meio empresarial, levando-a
pelo braço a jantares e reuniões com executivos, recrutou os profissionais de comunicação que a assessoraram e
transferiu milhões de reais
para os cofres do partido.
Até a primeira semana de
setembro, data da última
prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral, o comitê de Marina arrecadou R$
13 milhões, dos quais R$ 7
milhões em contribuições de
pessoas físicas. É certo que
Leal estará no topo da lista de
doadores quando ela for divulgada, em novembro.
O empresário também organizou a discussão do programa de governo de Marina
e chamou à mesa colaboradores como o economista
Eduardo Giannetti, que convenceram a candidata a se
comprometer com os fundamentos de uma política econômica de perfil mais conservador do que o que ela chegou a defender no passado.
HABILIDADE
Além de financiar a campanha de Marina, Leal contribuiu com oito candidatos
do PV a deputado federal. Ele
espera que o partido saia das
urnas com algo entre 17 e 20
representantes na Câmara. A
bancada dos verdes em Brasília hoje tem 13 deputados.
A atuação do empresário
provocou atritos às vezes.
Um especialista em pesquisas chamado para ajudar Marina no início da corrida largou o emprego depois de se
desentender com o empresário, segundo um colaborador
da campanha. Também houve queixas de dirigentes do
PV que ficaram sem espaço
no centro de decisões.
Mas ninguém parece ter ficado muito magoado. "Para
alguém que nunca tinha feito
política antes, ele me surpreendeu pela habilidade
que teve para lidar com o partido", afirma o ex-deputado
Luciano Zica, um dos coordenadores da campanha.
Sem muito jeito para falar
em público, Leal suou sempre que se viu obrigado a subir no palanque. Na convenção que oficializou a candidatura de Marina, ele interrompeu três vezes a leitura
do seu discurso para se desculpar com a plateia por ter
perdido o fio da meada.
Seus amigos admitem que
ele não terá saudade dessa
parte da sua primeira experiência política. Mas isso não
significa que ele pretenda se
afastar do novo universo em
que entrou. "Posso continuar
fazendo política de outras
formas, mesmo sem ser candidato", diz o empresário.
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