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Vice improvisado, Indio se transforma em franco-atirador
Deputado seguiu preceitos de obra sobre "arte da guerra"
PLÍNIO FRAGA
DO RIO
O deputado federal Antônio Pedro de Siqueira Indio
da Costa (DEM-RJ), 39, era
um enigma ao ser escolhido
como vice do tucano José Serra e termina a campanha
avaliado como "subaproveitado" pelo DEM e como "inábil" por lideranças tucanas.
Admirador da obra de Sun
Tzu (544- 496 a.C), Indio fez o
prefácio de livro do historiador Carlos Lima Silva que comenta as estratégias do general chinês, autor da máxima
segundo a qual a "arte da
guerra é o engano".
"A leitura dessas obras
mestras nos prende a atenção porque nos aproximam
da compreensão do maior
dos enigmas: nós mesmos",
escreveu Indio.
Em três meses de campanha, o vice de Serra levou para a disputa os conselhos de
Sun Tzu: "Golpear o inimigo
quando está desordenado.
Preparar-se contra ele quando está seguro em todas partes. Se teu oponente tem um
temperamento colérico, tente irritá-lo".
Indio esteve em sete Estados em três meses de campanha. "O PT está fazendo uma
barbárie. Nunca vi tanto uso
da máquina pública quanto
nesta campanha. Quanto
gastou em viagens do presidente e dos ministros para
cumprir agendas inexistentes? É o projeto de construção
do totalitarismo", disse à Folha, ontem por telefone.
Ele nega o rótulo de polêmico. "O que fiz foi falar a
verdade e com clareza quando confrontado com opiniões diversas da minha."
Cita que suas declarações
fizeram o PT se reposicionar:
"Uma hora eles são a favor
do aborto, outra hora contra.
Eles se dizem a favor da liberdade de imprensa, mas
no fundo querem censurar a
imprensa".
O candidato a vice acredita que ajudou a contornar
pendências regionais entre
PSDB e DEM e não acha que
foi pouco utilizado na campanha, em especial na televisão. "Você viu o Temer (vice
de Dilma) na TV? Vice é vice.
O candidato é o Serra."
Indio estreou chamando a
petista Dilma Rousseff de
"ateia" e "esfinge do pau
oco", quando a candidata
declarou que seu vice não
caíra do céu. O demista foi
escolhido após Serra -que
havia anunciado o senador
Alvaro Dias (PSDB-PR) como
vice- ser acuado pelo DEM.
FICHA LIMPA
O marqueteiro Luiz Gonzalez sugeriu Indio ao tucano
por haver sido relator do projeto Ficha Limpa e por ser telegênico. "Ele me disse por
telefone: "Não tenho amantes". Até disse: "Também não
precisa exagerar". O que tem
que ser é uma coisa discreta", comentou Serra sobre o
parceiro, divorciado, pai de
uma menina.
Padrinho de Indio na política, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, candidato ao Senado pelo DEM, atribui a responsabilidade pela escolha a
Serra e a Gonzalez.
"Indio tem uma capacidade de vocalização extraordinária. Você entrega um tema
para ele e ele vocaliza muito
bem. Ele se convence daquilo, é assertivo", diz Maia.
"Na hora em que foi escolhido, eu disse: lista uns 15
municípios para ele visitar
por dia. Dá um carro e um helicóptero e deixe-o ir à rua. É
bonitão, tem postura. Foi
usado aquém do que poderia
ter sido usado", reclama.
Com 15 dias de campanha,
o deputado federal afirmou
que "todo mundo sabe que o
PT é ligado às Farc, ligado ao
narcotráfico, ligado ao que
há de pior". A declaração levou lideranças tucanas a
chamá-lo internamente de
"inábil" e a reduzirem suas
aparições públicas.
O marketing tucano procura associar Indio sempre
ao Ficha Limpa. A maior contribuição dele foi alterar o
projeto original que impedia
a candidatura de quem fosse
condenado em primeira instância, por um único juiz. Introduziu a expressão órgão
judicial colegiado.
Mas projeto também causou constrangimento ao candidato a vice. Foi cumprimentado por um radialista
paraibano, que citou como
exemplo o questionamento
da candidatura do tucano
Cássio Cunha Lima ao Senado graças ao Ficha Limpa.
"Ele é vítima de um excesso. Cássio esteve presente em
um evento de entrega da garantia da assistência social.
Nada demais. O que estão fazendo com Cássio é uma violência", declarou.
Formado em direito, ex-administrador do parque do
Flamengo, na zona sul do
Rio, duas vezes vereador, Indio vem de família abastada
-o pai (Luiz Eduardo) é dono
de um importante escritório
de arquitetura no Rio e o primo (Luís Octavio) é dono do
banco Cruzeiro do Sul.
Declarou patrimônio de
R$ 1,5 milhão ao TRE, incluindo um ultraleve (avaliado em R$ 171 mil) e um barco
(R$ 207 mil).
Indio levantou a possibilidade de que o presidente Lula estivesse bêbado quando
disse que o DEM era um partido que deveria ser "extirpado" da política brasileira.
"Depois do almoço, Lula falou aquele bando de besteiras. Não sei se ingeriu bebida
alcoólica ou não."
O candidato a vice evita
comentar o futuro, como a
possibilidade de ser candidato a prefeito do Rio em 2012,
caso saia derrotado amanhã.
"Vai haver segundo turno."
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