São Paulo, segunda-feira, 03 de janeiro de 2011

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Ministro buscou reaproximação após anos de atrito

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

No segundo semestre de 2005, Dilma Rousseff deu uma ordem incisiva: "Avisem o [Antonio] Palocci que, se ele não abrir os números da economia, não haverá reunião da junta orçamentária". Recém-chegada à Casa Civil, ela protagonizava com o então ministro da Fazenda um dos mais quentes confrontos dentro de um governo que tentava emergir do escândalo do mensalão.
Observadores daquele momento descrevem como "violentas" as reuniões entre ministros para discutir o Orçamento e os gastos públicos.
Naquela época, a ministra atribuía ao colega o vazamento de notinhas maliciosas contra ela nos jornais. Economista, também não aceitava os argumentos dele sobre a necessidade de um ajuste fiscal rigoroso.
Dilma alegava que era preciso garantir investimentos sem comprometer programas sociais. E dizia a Lula que o Planalto não conhecia os dados da economia.
Os atritos transcenderam os bastidores. À imprensa, Dilma classificou como "rudimentar" a proposta da equipe econômica de impor esforço fiscal de longo prazo.
"Era só o que me faltava", disse, na ocasião, o então ministro. "Não bastassem os ataques da oposição, agora o tiro de canhão vinha de dentro do próprio governo", desabafou Palocci, em seu livro "Sobre Formigas e Cigarras".
O conflito fez com que colocasse seu cargo à disposição. "Disse a Lula não ter naquele momento nenhum ânimo para permanecer no governo", relatou ele no livro.
As divergências entre os dois começaram no fim de 2003. Ministra de Minas e Energia, Dilma concluíra a elaboração do marco regulatório do setor elétrico após meses de negociação.
Dias antes da divulgação, Joaquim Levy, à época secretário do Tesouro e homem de confiança de Palocci, propôs à ministra um modelo alternativo. "Que negócio é esse? Um outro marco? Que absurdo! Melhor você sair daqui agora", reagiu Dilma.
Em 2006, o homem forte de Lula, visto no mercado como fiador da economia, deixava o governo sob acusação de quebrar o sigilo do caseiro Francenildo dos Santos.
Dilma, então, "abriu os dados da economia" ao presidente. E este abriu a ela os caminhos de sua sucessão.
A relação de Palocci e Dilma começou quando ele convidou a técnica do setor elétrico para a transição, em 2002. Também foi ele quem sugeriu a Lula o nome dela para Minas e Energia.
Após oito anos de conflitos, a aproximação se deu por iniciativa de Palocci, no início de 2010. "Estou disposto a não concorrer à Câmara nem disputar São Paulo para me dedicar à campanha".
A partir dali, se tornaria figura central da campanha e, mais tarde, da transição.

PORQUINHO
Às 19h20 de 31 de outubro, Dilma abraçou seus "três porquinhos" -Palocci, José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo. A estatística apontava a vitória. Os dois primeiros choraram, entre um gole e outro de cerveja.
Semanas depois, ela bancava Palocci na Casa Civil. Hoje, não há reunião importante a que ele não esteja presente. Nem articulação que não passe por seu telefone.
Testemunhas da transição afirmam que, mesmo com seu temperamento forte, Dilma repreende menos Palocci do que outros. Ele também não a enfrenta. Quando a temperatura sobe, silencia.
Vez ou outra, para alfinetar, ela brinca: "E aquele seu plano fiscal que terminava com crescimento mínimo, hein?". "Paloccinho", como o chama, apenas sorri.
Aos poucos, a proximidade transpôs a política. Passaram a trocar impressões sobre arte e literatura.
Mas Dilma não quer um primeiro-ministro fazendo-lhe sombra. E Palocci, que caiu depois de grande notoriedade, rejeita o epíteto de "homem forte" do governo.


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