São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE NOVO GOVERNO

Protocolar e sem emoção, discurso tem frases de efeito

Ao falar a deputados e senadores no Congresso, Dilma evita se comprometer com metas específicas

PLATEIA SILENCIOSA E RESPEITOSA CELEBRA FRASES SOBRE O COMBATE À INFLAÇÃO E A ERRADICAÇÃO DA MISÉRIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O discurso da presidente Dilma Rousseff ao Congresso foi estritamente protocolar, sem se comprometer com metas específicas nem marcar diferenças ou novidades em relação a seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.
Segura, firme e parecendo à vontade, Dilma leu o discurso da primeira à última linha, com duas preocupações principais: já induzir um título para as manchetes e reafirmar o equilíbrio entre investimentos sociais e salário mínimo, de um lado, e avanços sociais e controle da inflação, de outro.
O título mais óbvio, porém, perdeu a novidade depois de antecipado ontem na Folha: a convocação dos agentes políticos e federativos para um "pacto para avanços sociais", depois do velho mantra da "erradicação da miséria".
Sobraram assim frases de efeito -aplaudidas, claro, pela plateia respeitosa e silenciosa- sobre o quanto é inaceitável haver pessoas sem teto, sem alimentação adequada e sem condições fundamentais de vida a esta altura dos acontecimentos.
Mais aplausos quando assegurou: "Não permitiremos de jeito nenhum a volta da inflação". E mais quando pediu uma espécie de mutirão contra tragédias como a que matou cerca de 900 pessoas no Rio: "Não vamos esperar o próximo ano, as próximas chuvas, para chorar as próximas vítimas".
Não faltaram, evidentemente, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com todas aquelas cifras grandiosas que Dilma já gostava tanto como ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula. Como não faltaram o Minha Casa, Minha Vida e o compromisso de que haverá recursos para Copa e Olimpíada -mas para "benefícios permanentes".
Foi, assim, um discurso sem emoções e sem novidades, feito para parlamentares e para jornalistas. E incluindo, portanto, a defesa das reformas política e tributária.
Um ponto forte, pelo seu significado, foi a política externa. Dilma citou três vezes nos países vizinhos, ao falar em América do Sul, Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e em Mercosul (o bloco econômico da região). E defendeu o multilateralismo e o "mundo multipolar".
São formas de defender um novo mundo sem que os Estados Unidos sejam a única potência e que mandem e desmandem nos organismos internacionais, a começar da ONU (Organização das Nações Unidas).
Para completar, Dilma não devolveu a deferência do presidente dos EUA, Barack Obama, que surpreendeu ao anunciar sua vinda ao Brasil em março justamente no discurso do Estado da União, para o Congresso norte-americano. Ela não fez nenhuma referência aos Estados Unidos nem à Europa.


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