São Paulo, terça-feira, 04 de janeiro de 2011

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JANIO DE FREITAS

Homenagens reveladoras


Elogio de Dilma aos que pagaram "preço da ousadia" contrasta com homenagem dos novos oficiais a Médici


OS DOIS MOMENTOS grandiosos de Dilma Rousseff na posse não se fizeram só por sua dimensão humana, mas por serem também únicos. Em vez do esquecimento enganoso e oportunista, ou do arrependimento indiferente se sincero ou se elaborado -atitudes comuns entre os outrora adversários do "tempo de escuridão e medo"-, a homenagem de Dilma Rousseff aos que "pagaram o preço da ousadia" é parte de um contraste tão significativo quanto escondido.
Sua eleição recebeu uma resposta factual que, tudo indica, teve igual sinceridade à daquelas lembranças e homenagens que, como mais ninguém, Dilma Rousseff não deixou à margem do momento formal mais elevado de sua vida.
Em dezembro, em contraposição à vitória da ex-ativista antiditadura, torturada e prisioneira, a turma dos formandos da Academia Militar das Agulhas Negras prestou a sua homenagem: assumiu o nome, por eleição como patrono, de Turma Garrastazu Médici.
Atitude honesta, sem subterfúgios, sem incoerências. Expressão autêntica da formação recebida e do resultado absorvido. E sem restrições: consagrada nos atos de formatura pelos comandos do Exército e pelo ministro da Defesa, o Nelson Jobim mantido no governo de Dilma Rousseff.
A par da contraposição ao resultado eleitoral, em si, há outra: é a contraposição à maioria dos cidadãos brasileiros, que manifestaram nas urnas sua preferência por Dilma Rousseff na Presidência.
A democracia não é o único caminho trilhado no Brasil nos últimos 25 anos do pós-ditadura, e ainda hoje.

MÁ FÓRMULA
A provável privatização dos aeroportos principais, primeira ideia proveniente do novo ministério, é mais uma denúncia indireta do fracasso dos compromissos governamentais assumidos, nesse setor, em seguida ao desastre de 2007 em Congonhas e reiterados a propósito da Copa.
Mas privatizar será uma coisa e outra o modo de fazê-lo. Não há lógica em repassar os aeroportos aos Estados, para privatização posterior. Começa por haver em tal fórmula uma doação de riqueza federal a alguns Estados, exatamente os mais ricos em detrimento dos demais. Além disso, o processo de privatização será muito mais conturbado e, por mais dificuldade de fiscalizações esparsas, muito mais exposto às impropriedades comuns nesses negócios brasileiros.

BOA FÓRMULA
A TV Cultura de São Paulo tem transmitido excelentes documentários históricos em finais de noite -lá pelas 23 horas-, que vale a pena caçar. A programação publicada não os indica, não sei por quê, mas as palavras "Documentário Cultura" parecem sugerir alguns dos filmes. Só um exemplo: o mais recente, "Inimigos do meu Inimigo", é um excelente documento da proteção dada pela CIA e por militares ocupantes da Alemanha a grandes criminosos nazistas, em troca de colaboração contra os soviéticos e, depois, até em golpes da direita na América do Sul.


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