São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011

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"Não há ilegalidade nas atividades de minha empresa"

O sr. recebeu doações para a campanha presidencial no escritório da Projeto?
Sempre mantive a Projeto desvinculadas de atividades partidárias e eleitorais. A campanha tinha um tesoureiro e um comitê financeiro. Minha atuação se dava na coordenação política.

Por que o sr. não se afasta do governo até o final das investigações iniciadas pela Procuradoria da República do Distrito Federal, como a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) sugeriu na semana passada?
Ao que eu saiba, a senadora Gleisi negou ter dado essa declaração. O que vi até agora foi só um conjunto de acusações injustas e infundadas. Não há qualquer ilegalidade nas atividades da minha empresa e ninguém mostrou provas do contrário. A Receita Federal e os órgãos tributários de São Paulo não veem irregularidade. A Polícia Federal e o Coaf afirmaram, em nota oficial, que não há qualquer investigação em curso, nem motivo para iniciá-la contra mim ou contra a empresa. A Comissão de Ética declarou publicamente não ter qualquer reparo à minha conduta. Já respondi a todos os pedidos de informações do procurador-geral. Não se trata de apego a cargos. Tenho, sim, a convicção de que não cometi ilegalidades ou desvios éticos.

O sr. poderia detalhar como era o trabalho de consultoria?
Na época da crise econômica, em 2008, havia no mercado muitas empresas contratando créditos com cláusula cambial, contratos em dólar. Isso eu conversei com praticamente todas as empresas com que eu tinha contratos. Dado que tinha uma crise, sugeri a essas empresas que elas estavam correndo muito risco fazendo contrato de câmbio na medida em que, com a evolução da crise, os níveis cambiais poderiam ficar muito voláteis.

Seus clientes seguiram suas recomendações? Algum teve dificuldades naquela época?
Nesse campo, não. Acredito que tenha ajudado elas a decidir deixar esses contratos. Você sabe quanto esses contratos custaram para as dívidas das empresas nos meses seguintes. Na época não sabiam que haveria a crise com o Lehman Brothers.

O sr. teme que seus adversários digam que o sr. teve acesso a informações do governo sobre a política cambial para orientar seus clientes?
Entre julho e agosto de 2008, havia vários analistas prevendo várias tendências para o câmbio. O que eu dizia para as empresas não é de quanto seria o câmbio futuro. O que fiz foi avaliar para as empresas que havia muito risco de volatilidade cambial, dado que estávamos entrando em uma crise internacional. É essa avaliação, o risco de volatilidade dos contratos de câmbio. Não se trata de informação privilegiada, primeiro porque nem mesmo as autoridades têm informação de quanto será o câmbio futuro. Segundo porque no mercado você encontra todo dia avaliações sobre isso. Eu fiz uma avaliação e poderia ter errado. Naquele momento, eu acertei a tendência.

O sr. prestou serviços de consultoria após julho de 2010?
Não me lembro de datas, mas fiz consultorias e palestras no ano passado, durante algum período, mais próximo da eleição. Me afastei da empresa, da gestão da empresa, antes da campanha.

O sr. era ex-ministro da Fazenda e deputado influente no governo. O sr. tinha informações privilegiadas para ajudar seus clientes?
Há uma regra sobre autoridades na área econômica que impede que, em um período de quatro meses após deixar o cargo, a pessoa preste serviços de consultoria ou desenvolvimento de empreendimentos justamente por isso. A lei considera que, após esse período, as informações são praticamente públicas. Hoje o poder público trabalha com níveis de transparência bastante grandes.

O sr. teme ver seu trabalho classificado como lobby?
As atividades da Projeto eram atividades privadas, com contratos privados, e que não envolviam a ação da Projeto em nome de seus clientes junto a órgãos públicos. Essa é a questão fundamental. Quando a empresa tinha de lidar com órgãos públicos, não era a Projeto que fazia isso. Não temo porque não fiz. Estou seguro de ter feito as coisas na mais estrita legalidade, sabia de minhas responsabilidades como parlamentar, sabia claramente o que dizia a lei, não iria cometer uma falta como essa.

Petistas cobraram explicações públicas e até sua saída. Está se sentindo abandonado pelo PT?
Não lembro de ninguém que tenha pedido a minha saída. Recebi solidariedade de dirigentes do PT, de governadores, parlamentares.

O governador da Bahia, Jaques Wagner, disse que sua empresa "chama atenção".
Jaques Wagner me deu apoio pessoal, de forma muito clara. Gosto muito dele, é um grande governador. Não tenho nenhuma queixa e não me incomodo que tenham dúvidas. Respeito isso.

Por que o sr. demorou para prestar esclarecimentos?
Não houve demora. Houve um ordenamento de informação. Dado que houve denúncias de partidos da oposição ao procurador-geral da República, eu primeiro precisava informar ao procurador-geral. Não seria correto dar explicações públicas sem dá-las ao procurador.

Se a procuradoria abrir uma investigação, o sr. pedirá licença do cargo?
Isso vou avaliar no devido tempo. Fiz o que ele solicitou, as informações foram todas prestadas, não tem informação da empresa que eu pretenda esconder.

A presidente cobrou explicações do sr. e avaliou que o sr. estava demorando a falar.
A presidente tem todo o direito de expressar o que desejar, jamais vai me ofender uma expressão dela. Ela apenas solicitou que eu fizesse, me orientou, na verdade, que eu fizesse toda explicação ao órgão adequado, ao procurador-geral da República, pediu que eu desse todas as informações solicitadas e prestasse explicações em relação à empresa. Não acredito que ela esteja em desacordo com o procedimento que fiz.

FOLHA.com
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