São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2010

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ANÁLISE CAMPANHA NA TV

Com tantas regras, efeito de debate é incerto

Audiência desse tipo de programa nunca foi alta, e restrições criadas pelos partidos minimizam eventuais danos

Embora as imagens do programa tenham tratamento comedido por parte das TVs nos dias seguintes, na internet haverá todo tipo de interpretação -ou de manipulação


FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

A audiência de debates eleitorais na TV nunca é das maiores. O assunto (política) é pouco atraente para o grande público na comparação com novelas e reality shows. Para complicar, esses eventos são quase sempre transmitidos após as 22h, quando a maioria dos eleitores já pensa em ir dormir.
A influência dos confrontos diretos é incerta. Ocorre sempre nos dias seguintes se uma grande gafe foi cometida. Quando os candidatos se mantém dentro do esperado, o impacto é menor.
Foi assim em todas as eleições presidenciais desde 1989. Mas a repercussão tem ficado cada vez mais anódina e padronizada. Há uma lista caudalosa de imposições legais. Por exemplo, nenhum político pode usar nas suas propagandas eleitorais na TV cenas com políticos de outros partidos -ou seja, imagens constrangedoras de adversários em debates.
Criou-se também uma cultura de autocensura das emissoras de rádio e de TV: na dúvida sobre como divulgar um comentário mais ácido de um político, evitam assuntos que possam resultar em uma multa aplicada pela Justiça Eleitoral. As TVs também só conseguem fazer debates se aceitam acordos prévios com os candidatos.
Para ter o debate de hoje à noite, a Bandeirantes se comprometeu a usar em seus telejornais imagens e áudios editados apenas das primeiras perguntas (iguais para todos) e as considerações finais. Os trechos com candidatos perguntando uns aos outros estão proibidos nos noticiários da emissora.
Os candidatos só aceitam participar assim, com regras rígidas. Querem minimizar previamente possíveis danos. A tática de responder de maneira genérica, com tergiversações, passa quase incólume. Jornalistas presentes aos debates são proibidos de comentar dizendo "o sr. (ou a sra.) não respondeu ao que foi perguntado".

CONFRONTO DIRETO
Ainda assim, o encontro direto entre candidatos a presidente é o que há de mais próximo de uma área de risco para políticos de olho no Palácio do Planalto.
Apesar das regras bizantinas e das intensas sessões de treinamento a que os candidatos se submetem (ou "coaching", para usar o anglicismo corrente nas campanhas), existe sempre a possibilidade de alguém perder o controle, de falar fora do tom ou de se revelar menos preparado do que nas belas propagandas partidárias filmadas em película.
Embora as imagens do programa tenham um tratamento comedido por parte das emissoras de TV nos dias seguintes, no território livre da internet haverá todo tipo de interpretação -ou manipulação. Será também uma forma de aferir o efeito dos vídeos na web no atual processo eleitoral brasileiro.


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