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ANÁLISE CAMPANHA NA TV
Com tantas regras, efeito de debate é incerto
Audiência desse tipo de programa nunca foi alta, e restrições criadas pelos partidos minimizam eventuais danos
Embora as imagens do programa tenham tratamento comedido por parte das TVs nos dias seguintes, na internet haverá todo tipo de interpretação -ou de manipulação
FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
A audiência de debates
eleitorais na TV nunca é das
maiores. O assunto (política)
é pouco atraente para o grande público na comparação
com novelas e reality shows.
Para complicar, esses eventos são quase sempre transmitidos após as 22h, quando
a maioria dos eleitores já
pensa em ir dormir.
A influência dos confrontos diretos é incerta. Ocorre
sempre nos dias seguintes se
uma grande gafe foi cometida. Quando os candidatos se
mantém dentro do esperado,
o impacto é menor.
Foi assim em todas as eleições presidenciais desde
1989. Mas a repercussão tem
ficado cada vez mais anódina
e padronizada. Há uma lista
caudalosa de imposições legais. Por exemplo, nenhum
político pode usar nas suas
propagandas eleitorais na TV
cenas com políticos de outros
partidos -ou seja, imagens
constrangedoras de adversários em debates.
Criou-se também uma cultura de autocensura das
emissoras de rádio e de TV:
na dúvida sobre como divulgar um comentário mais ácido de um político, evitam assuntos que possam resultar
em uma multa aplicada pela
Justiça Eleitoral. As TVs também só conseguem fazer debates se aceitam acordos prévios com os candidatos.
Para ter o debate de hoje à
noite, a Bandeirantes se comprometeu a usar em seus telejornais imagens e áudios
editados apenas das primeiras perguntas (iguais para todos) e as considerações finais. Os trechos com candidatos perguntando uns aos
outros estão proibidos nos
noticiários da emissora.
Os candidatos só aceitam
participar assim, com regras
rígidas. Querem minimizar
previamente possíveis danos. A tática de responder de
maneira genérica, com tergiversações, passa quase incólume. Jornalistas presentes
aos debates são proibidos de
comentar dizendo "o sr. (ou a
sra.) não respondeu ao que
foi perguntado".
CONFRONTO DIRETO
Ainda assim, o encontro
direto entre candidatos a presidente é o que há de mais
próximo de uma área de risco
para políticos de olho no Palácio do Planalto.
Apesar das regras bizantinas e das intensas sessões de
treinamento a que os candidatos se submetem (ou "coaching", para usar o anglicismo corrente nas campanhas), existe sempre a possibilidade de alguém perder o
controle, de falar fora do tom
ou de se revelar menos preparado do que nas belas propagandas partidárias filmadas em película.
Embora as imagens do
programa tenham um tratamento comedido por parte
das emissoras de TV nos dias
seguintes, no território livre
da internet haverá todo tipo
de interpretação -ou manipulação. Será também uma
forma de aferir o efeito dos vídeos na web no atual processo eleitoral brasileiro.
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