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A Bulgária dos Rousseff
Perseguido pelos comunistas , meio-irmão de Dilma queria viver no Brasil com o pai, Pétar
VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A SÓFIA
Pode parecer irônico, mas
enquanto Dilma Rousseff lutava contra uma ditadura de
direita no Brasil, seu meio-irmão, Luben Russév, sofria
com a ditadura de esquerda
na Bulgária.
No Brasil, Dilma era considerada perigosa por ser comunista. Na Bulgária, Luben
era visto como não confiável
pelo governo comunista por
ter um pai que havia fugido
para um país capitalista.
Política à parte, poucos
são os laços que ligam os irmãos, que jamais se viram.
Luben é o filho que o pai de
Dilma, Pétar Russév (que
aportuguesou seu nome para
Pedro Rousseff), teve na Bulgária com Evdokia Yankova,
sua primeira mulher.
Pedro também não conheceu o filho. Ele fugiu da Bulgária em 1929, pouco antes
de a criança nascer.
Segundo informações dadas por Luben a um jornalista em 2004 (três anos antes
de morrer), o pai prometeu à
mulher que iria voltar.
Pedro viveu na França e
passou pela Argentina antes
de se fixar no Brasil, onde conheceu a mãe da candidata
do PT, também chamada Dilma. Eles se casaram e tiveram três filhos. Dilma é a filha do meio.
As promessas de voltar à
Bulgária e reunir a família
nunca foram cumpridas. Pedro Rousseff morreu em
1962, em Belo Horizonte.
Há pouquíssimos registros
sobre ele na Bulgária. Há
também versões desencontradas sobre sua vida.
Dizem que nasceu em
1900 em Gábrovo, cidade ao
norte do país famosa por ter
muitos mercadores de tecidos. A família dele também
era de comerciantes.
Depois, mudou-se para
Sófia, onde se alinhou aos
comunistas. A Bulgária vivia
tempos turbulentos nos anos
20. Era uma monarquia e tinha um governo fascista.
Os comunistas tentavam
desestabilizar o governo com
atos terroristas. Eram reprimidos e perseguidos.
Dilma já disse em entrevistas que o pai deixou a Bulgária por razões políticas. Luben, seu meio-irmão, afirmou que foram razões econômicas: o pai estava falido.
Estudiosos dizem que pode ser uma combinação das
duas coisas. Além de politicamente conturbada, a Bulgária estava com sua economia em frangalhos.
O primeiro contato de Luben com o pai se deu em
1948, por carta. Ele tinha 18
anos e estudava engenharia.
Os comunistas haviam tomado o poder, com a ajuda
da União Soviética, e reduziam os direitos individuais.
Tentaram expulsar o meio-irmão de Dilma da faculdade
pelo fato de ele ter feito parte
de um grupo juvenil que
apoiava a social-democracia.
Luben era considerado um
aluno brilhante, e a faculdade impediu sua expulsão.
Mas o governo o mantinha
sob vigilância, como fazia
com a maioria dos que tinham algum parente fora do
"mundo socialista".
Dinheiro para um VW
O meio-irmão de Dilma
disse que pediu várias vezes
ao pai para ajudá-lo a sair da
Bulgária e levá-lo ao Brasil.
Pedro enviou ao filho alguns pacotes com presentes.
Às vezes, punha dólares escondidos entre cartões postais, para que passassem
despercebidos pela polícia.
Com esse dinheiro, Luben
conseguiu comprar um
Volkswagen. Em 1962, o engenheiro soube da morte do
pai e solicitou várias vezes ao
governo permissão para viajar ao Brasil para tratar de
sua herança.
Ele sabia, por meio de uma
poeta búlgara, amiga de seu
pai, que Pedro tinha se tornado um homem rico.
Mais uma vez, não obteve
autorização para viajar.
Tempos depois, foi informado pelo Departamento de
Relações Exteriores de que tinha recebido do Brasil a
quantia de US$ 1.500 referentes a sua herança.
Luben acreditava que tinha direito a mais dinheiro,
mas achou que era melhor
pegar os US$ 1.500 do que ficar sem nada.
O engenheiro se casou e
não teve filhos. Nos últimos
anos de vida, morava com a
mulher, Margarita, no centro
de Sófia. Sofria de reumatismo e andava de muletas.
Seus vizinhos dizem que ficava o tempo todo em casa. Só
saía para ir ao hospital.
Bozhidar Baykushev, que
é filho de uma irmã de Margarita, disse a um jornal local
que o tio era fechado e que
nunca falou do pai ou dos
meio-irmãos brasileiros.
Segundo Momchil Indjov,
jornalista que entrevistou
Luben em 2004, ele falava do
pai com carinho e desilusão,
por não ter tido ajuda para
fugir do comunismo.
Dinheiro de Dilma
Rumen Stoyanov, um professor de literatura brasileira
que viveu por cerca de dez
anos no Brasil, foi um dos últimos amigos de Luben.
Ele afirma que, em 2005,
recebeu um pedido do Brasil,
via embaixada, para que procurasse o meio-irmão da então ministra Dilma Rousseff.
Ele o encontrou e o ajudou
a se corresponder com a irmã. Numa das cartas, Luben
comentou com Dilma que estava com dificuldades financeiras. Segundo Rumen, Dilma, então, remeteu dinheiro.
Rumen conta que poucos
dias antes de morrer, em fevereiro de 2007, Luben ligou
para sua casa pedindo que
traduzisse uma carta que iria
escrever à irmã brasileira.
"Combinei de ir à casa dele
dias depois. Não deu tempo.
Ele morreu antes, e nunca vamos saber o que ele gostaria
de falar para a irmã."
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