São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Índice é útil, mas se baseia em simplificações arbitrárias

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Índices compósitos a exemplo do IDH funcionam como uma droga, capaz de viciar economistas, jornalistas e burocratas. São mesmo tentadores: ao traduzir num único número diferentes aspectos do que quer que se pretenda avaliar, eles permitem comparar os elementos, estabelecer rankings e acompanhar a evolução de cada unidade ao longo do tempo.
Para além do uso recreativo, tais índices podem ser uma ferramenta útil na hora de definir políticas públicas e decidir investimentos. Não se pode esquecer, porém, de que eles exprimem modelos, que encerram grande dose de arbitrariedade e são necessariamente uma simplificação grosseira da realidade.
A moda dos índices compósitos começou nos anos 90, depois que, a pedido da ONU, um grupo de economistas, entre os quais o indiano Amartya Sen, elaborou o IDH. A ideia era reduzir o peso excessivo que se dava à economia -o principal indicador usado era o PIB "per capita"- e incluir também outras dimensões. Assim, o IDH leva em conta, além do PIB, a saúde e a educação.
De lá para cá, foi uma verdadeira febre. Surgiram índices para medir democracia, sustentabilidade, "felicidade nacional bruta" e até qualidade de morte. Só o relatório do IDH deste ano agrega mais três indicadores (IDH-D, desigualdade de gênero e pobreza multidimensional).
O problema com essas estatísticas compósitas é que elas são, por natureza, muito vulneráveis. Para cada item que incluem, deixam de fora um número muito maior de variáveis que poderiam ser consideradas uma medida de desenvolvimento. O IDH, por exemplo, é censurado por não trazer nenhum dado da dimensão ambiental.
Mesmo os tópicos que constam da fórmula podem ser contestados. Para representar a saúde, o IDH utiliza a expectativa de vida ao nascer. Não há dúvida de que esse indicador reflete as condições sanitárias de um país, mas ele embute também características geográficas (propensão a enchentes, terremotos), sociais (violência) e até mesmo genéticas.
Tal gênero de dificuldade parece ser uma limitação do próprio método. Como o economista Bryan Caplan jocosamente escreveu sobre o IDH: "Isso significa que um país com imortais e PIB infinito teria nota de 0,666 (menor que a do Equador e do Turcomenistão), se sua população fosse analfabeta e não frequentasse a escola". Países escandinavos vêm sempre no topo, conclui o autor, "porque o IDH é basicamente uma medida de quão escandinavos são os países".


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