São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2011

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FOCO

Família de correspondente de guerra agora precisa provar que ele foi à guerra

Justiça cassou benefício pago à viúva de Joel Silveira, que cobriu a campanha brasileira na Itália, porque falta um diploma do Exército

JEAN-PHILIP STRUCK
DE SÃO PAULO

A família de Joel Silveira (1918-2007), jornalista que atuou como correspondente ao lado da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália, terá de provar na Justiça sua participação na Segunda Guerra Mundial para receber uma pensão de ex-combatente que foi cancelada.
Autor de sete livros sobre a guerra, Silveira teve o benefício cassado em 2007, a pedido da Advocacia-Geral da União, que alegou que ele não provou sua condição de ex-combatente: faltou um diploma emitido pelo Exército.
Para a AGU, o fato de Silveira ter atuado na guerra como jornalista "não o caracteriza como ex-combatente".
Após perderem um recurso em fevereiro último, parentes do jornalista pretendem recorrer da decisão no Superior Tribunal de Justiça para reaver parte dos pagamentos (R$ 4.000 mensais).
Silveira já havia morrido quando a pensão foi cancelada. Na época, o benefício havia passado à viúva do jornalista, Iracema -morta em 2010-, que recebeu apenas a metade de um dos pagamentos antes do cancelamento.
A família espera receber o pagamento correspondente aos meses entre a morte de Silveira e a morte de Iracema. O valor chega a R$ 200 mil.
Elisabeth da Silveira, 65, filha de Joel, diz que o valor é necessário para repor os gastos com despesas médicas que o escritor e a viúva tiveram no fim da vida: "Tenho o temperamento do meu pai. Vou até o fim dessa história".
Para o advogado da família, Antonio Pereira, Silveira está sendo discriminado por ter atuado como jornalista.
"Não interessa se ele foi com um fuzil ou com uma caneta." Uma medalha de campanha recebida por Silveira e outros documentos já garantem a pensão, diz Pereira. "Ele se arriscou mais que muitos combatentes porque não podia revidar, tinha de escrever reportagem. Quase morreu várias vezes", argumenta a filha do escritor.
Na Itália, Silveira usava uniforme e tinha patente de capitão concedida pelo Exército. A distinção, porém, era honorária, como ele próprio relatou em um de seus livros, ao mandar um soldado "procurar um oficial de verdade".
Nascido em Sergipe e conhecido como "víbora" por seu estilo ácido, Silveira foi mandado à Itália, aos 26 anos, pelo então dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, com a seguinte ordem: "Não me morra. Repórter é para mandar notícias, não é para morrer!"


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