São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Manobras de defesa travam o julgamento do mensalão

Envolvidos não foram punidos 5 anos após maior escândalo do governo Lula

Ação está "congelada" há mais de 1 ano para ouvir 640 testemunhas, muitas das quais não contribuíram em nada


LUCAS FERRAZ
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA

Cinco anos depois de revelado o maior escândalo de corrupção do governo Lula, o processo do mensalão enfrenta hoje sua fase mais burocrática na Justiça, sob manobras constantes dos advogados dos 39 réus, e ainda sem punição dos envolvidos.
Desde março de 2009, a ação penal no Supremo Tribunal Federal está "congelada", exclusivamente dedicada a ouvir as 640 testemunhas indicadas pelos investigados no Brasil e no exterior.
Essa fase, porém, deve terminar logo. Está programado para ocorrer em Rio Branco (AC), no dia 15 ou 16, o depoimento da última testemunha, um policial federal arrolado pelo publicitário Marcos Valério, o operador do esquema de pagamento de propina a congressistas da base do governo em troca de apoio, revelado pela Folha em junho de 2005, há cinco anos.
Assim que ele for ouvido, o processo entrará na etapa derradeira, com a abertura para as alegações finais, de todas as partes, e a preparação do voto do relator, ministro Joaquim Barbosa. Esse período, contudo, não levará menos de 12 meses.
O esquema foi denunciado ao Supremo pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, em 2006. Em 2007, o tribunal abriu ação contra os envolvidos, muitos deles políticos e empresários. São acusados de crimes como formação de quadrilha, peculato, corrupção e lavagem de dinheiro.
Barbosa, atualmente de licença médica do STF para tratar de uma doença crônica na coluna, quer julgar o mensalão até o final de 2011.
A interlocutores, o ministro diz que adotou um ritmo "aceleradíssimo", levando-se em conta o número de investigados e a complexidade do caso. Procurado, o relator não quis comentar o assunto.
Até o momento, a ação penal do mensalão tem 183 volumes, mais de 45 mil páginas que, juntas, somam 226 quilos -sem contar os apensos. O inquérito da Polícia Federal, base da investigação, tem 12.540 páginas. Digitalizado, o material está guardado na sala-cofre do Supremo.
Segundo relatos ouvidos pela Folha, a fase dos depoimentos das testemunhas de defesa pouco contribuiu para a elucidação judicial do mensalão. Poucas pessoas, entre as centenas de testemunhas indicadas, levaram ao Supremo informações relevantes sobre o caso.

CHICANA
Geralmente, costumavam atestar que só souberam do esquema de corrupção pelos jornais e que os acusados são pessoas "idôneas" e reconhecidas profissionalmente.
Outra parcela elucidou alguns pontos, muitos deles levantados pelas duas CPIs que investigaram o assunto.
Entre as exceções está o depoimento do presidente Lula, que, pela primeira vez, confirmou que foi informado da existência do esquema.
As defesas souberam aproveitar para, quase diariamente, fazer pedidos de reagendamento, adiamento ou anulação de testemunhas.
O relator queixou-se no plenário do STF das "manobras" e "chicanas" dos advogados que, segundo ele e assessores, "fazem de tudo para atrasar o julgamento".
É o caso do ex-deputado Roberto Jefferson, que revelou o escândalo em entrevista à Folha. Seu advogado, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, fez no primeiro semestre deste ano 13 pedidos ao STF. Barbosa avaliou que ele estava "tumultuando" o caso.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Depoimentos reforçam elo entre Dantas e Valério
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.