São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010

Dilma distorce números, e Serra faz críticas periféricas

Petista faz projeções sem base para a educação; tucano não propõe soluções

A julgar pelo debate, as ambições de Dilma são a reforma tributária e a regulamentação da emenda sobre a saúde


GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A petista Dilma Rousseff distorceu números para superfaturar os méritos do governo Lula, enquanto o tucano José Serra se dedicou a promessas típicas de governadores e prefeitos, como a criação de vagas em escolas e a promoção de mutirões.
O primeiro debate da campanha eleitoral apresentou, de um lado, a situacionista que oferece algo entre a continuidade e a mera celebração de feitos reais e imaginários; do outro, o principal oposicionista que limita quase todas as suas críticas e propostas a aspectos periféricos da administração federal.
A julgar pelas afirmações de anteontem à noite, na Band, as principais ambições de Dilma para o futuro são a reforma tributária e a regulamentação da emenda constitucional que disciplina os gastos em saúde, ambas já encaminhadas pelo presidente Lula, mas empacadas no Congresso Nacional.
Há ainda a torcida declarada para a erradicação completa da miséria e ampliação dos recursos públicos para a educação para o equivalente a 7% do Produto Interno Bruto, que seriam um desdobramento natural das conquistas recentes.

SEM BASES
A primeira se baseia em um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que projeta o fim da pobreza extrema em 2016 caso seja mantido até lá o ritmo de melhora da renda contabilizado de 2004 a 2008; os anos de 2003, de aumento da pobreza, e de 2009, de crise econômica, ficam convenientemente fora da conta.
Já a segunda não tem nem sequer base conhecida. Pela última estimativa oficial disponível, os gastos de União, Estados e municípios em educação chegaram a 4,7% do PIB em 2008 -Dilma falou em algo entre 5% e 6%.
Se for mantido o ritmo de aumento do governo Lula, a meta mencionada pela petista só seria atingida em 17 anos.
De resto, sobra o rosário de cifras já disseminado pelo PT na internet. Algumas consistentes, como a redução da dívida pública de 60% para 42% do PIB, outras enganosas, como a do suposto reajuste real de 74% concedido ao salário mínimo -o índice em oito anos ficou pouco acima da metade dos 100% prometidos por Lula para seus primeiros quatro anos.
Sem contestar a louvação ao presidente Lula, Serra concentrou ataques contra a redução dos mutirões em saúde, descendo a detalhes como as cirurgias de próstata e varizes, e a problemas na relação do governo com as associações de apoio a crianças excepcionais.

SEM SOLUÇÕES
Criticou, é verdade, os atrasos nas obras de infraestrutura e, depois de instado por um jornalista, as taxas de juros e a carga tributária, também elevadas na gestão tucana. Não apresentou, porém, nenhuma solução -no máximo, disse que expandirá para o país a experiência da nota fiscal paulista.
Repetiu ter triplicado o "nível de investimentos" no Estado, mas multiplicado por três, de fato, foi apenas o valor nominal desses gastos. Pelo mesmo critério, os investimentos federais, mais volumosos, teriam sido duplicados no período.
E prometeu acabar com o loteamento político das estatais, em particular nos Correios, na única objeção ao governo Lula que ultrapassou o âmbito gerencial.


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