São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Grupos já pressionam Comissão da Verdade

Vítimas da ditadura militar montam comitês em 18 Estados para reunir documentos e pedir mudanças no projeto

Mesmo evitando debate no Congresso, governo estimula ativistas, que buscam papéis para municiar futuro órgão

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA

Enquanto a presidente Dilma Rousseff tenta aprovar o projeto que cria a Comissão da Verdade sem alterações no Congresso, vítimas do regime montam comitês locais para pressionar por mudanças no texto e reunir papéis que poderão ajudar na investigação de crimes da ditadura militar (1964-1985).
Já foram criados ao menos 18 grupos: quatro em São Paulo, três em Minas Gerais e um em cada um dos estados de Alagoas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Amazonas, Rondônia, Ceará, Pernambuco e Bahia, além do Distrito Federal.
Os comitês defendem alterações no projeto do governo e se articulam para municiar a futura comissão.
O objetivo é juntar relatos e documentos sobre os crimes cometidos pelo Estado contra militantes de esquerda durante o regime militar, que poderão ser usados caso a criação do órgão seja aprovada na Câmara e no Senado.
A mobilização por comitês estaduais repete a estratégia dos ativistas no fim da ditadura, quando o governo foi forçado a promulgar a Lei da Anistia, em 1979.

LIMITAÇÕES
Conforme texto enviado ao Congresso pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, a comissão não julgará a responsabilidade de agentes estatais em mortes, torturas e desaparecimentos durante a ditadura.
A ressalva foi feita para esfriar os ânimos dos militares e para não criar atrito com o STF (Supremo Tribunal Federal), que declarou a validade da Anistia para ex-agentes do regime acusados de torturar presos políticos.
Os representantes das vítimas dizem que isso pode limitar a eficácia da comissão, já que ninguém será punido.
O governo quer aprovar o projeto sem discussão no Congresso por temer que a comissão não saia do papel.
Por isso, trabalha por acordos na Câmara e no Senado para aprovar o texto como está, em regime de urgência, sem necessidade de análise por uma comissão especial.

APOIO DISCRETO
Ao mesmo tempo em que tenta evitar o debate parlamentar, o governo tem estimulado, por meio da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, a criação dos comitês locais.
Nas últimas semanas, a ministra Maria do Rosário foi à inauguração de ao menos três deles. Assessores ajudam a fomentar a criação dos grupos, ligando e fornecendo contatos, sem no entanto dar-lhes dinheiro.
Iara Xavier Pereira, do comitê do DF, diz não haver "jogo duplo", mas a tentativa de sensibilizar a sociedade para a importância da aprovação da Comissão da Verdade.
"Queremos influenciar na [mudança] do texto da lei, mas, principalmente, acompanhar a Comissão, que é quando vai começar o trabalho mais importante", disse.
No fim de junho, vítimas da ditadura conseguiram marcar um debate sobre o projeto na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, mas nenhum representante do governo participou.


Texto Anterior: Brasil dificulta acesso a dados, dizem promotores
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.