São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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ANÁLISE

Crescimento econômico inverte discursos de Serra e Dilma

LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

No dia 5 começou oficialmente a campanha eleitoral. Além de propagandas, espera-se dos candidatos suas propostas de governo. A entrega de programas ao TSE, junto com o registro de candidaturas, não parece ter atendido a essa expectativa.
No caso de Serra, foram depositados discursos que ele fizera dias antes, de tom mais retórico. No caso de Dilma, o documento tem mais princípios do que propostas.
Há motivos para isso. Primeiro: as duas candidaturas são sustentadas por alianças entre partidos que têm visões e práticas distintas. Tentar unificar propostas pode trazer mais trincas do que ligas.
Segundo: o fato de o Brasil viver um momento econômico positivo, com crescimento de PIB, emprego e renda, torna a economia um ator vital da campanha. É o principal pilar da popularidade de Lula e o duto da possível transferência de votos para Dilma. Para Serra é complicado formular propostas nesse campo, porque os elogios -o bicho pega- carreiam votos para Dilma, e as críticas -o bicho come- também.
Para Dilma, não há por que quebrar a cabeça -ou queimar a língua- se o time está ganhando. Daí os discursos recorrerem a outros temas. Bolsa Família, por exemplo. Serra, acusado de pretender extinguir o benefício, promete dobrar o número de famílias atendidas. Diz que gerará recursos com reduções dos gastos com juros.
Dilma duvida e exibe os resultados concretos do atual governo. O interessante é que, sem falar de economia, os dois invertem os discursos econômicos que deles se poderiam esperar -se tomarmos suas formações políticas e intelectuais.
Serra abre mão de temas que são constitutivos de seu pensamento, como a crítica ao "assistencialismo" e a defesa do rigor fiscal, característicos de um keynesianismo que incorporou ditames da ortodoxia. É de se supor que busca atrair as camadas mais pobres da população.
Dilma fala de responsabilidade fiscal e metas realistas, atípicos do keynesianismo mais intensivo característico do PT. É de se deduzir que quer preservar os que rejeitam mudanças econômicas.

LUIZ GUILHERME PIVA é diretor da LCA Consultores. Publicou "A Miséria da Economia e da Política" (Manole).



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