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ANÁLISE
Crescimento econômico inverte discursos de Serra e Dilma
LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
No dia 5 começou oficialmente a campanha eleitoral.
Além de propagandas, espera-se dos candidatos suas
propostas de governo. A entrega de programas ao TSE,
junto com o registro de candidaturas, não parece ter
atendido a essa expectativa.
No caso de Serra, foram
depositados discursos que
ele fizera dias antes, de tom
mais retórico. No caso de Dilma, o documento tem mais
princípios do que propostas.
Há motivos para isso. Primeiro: as duas candidaturas
são sustentadas por alianças
entre partidos que têm visões
e práticas distintas. Tentar
unificar propostas pode trazer mais trincas do que ligas.
Segundo: o fato de o Brasil
viver um momento econômico positivo, com crescimento
de PIB, emprego e renda, torna a economia um ator vital
da campanha. É o principal
pilar da popularidade de Lula e o duto da possível transferência de votos para Dilma.
Para Serra é complicado
formular propostas nesse
campo, porque os elogios -o
bicho pega- carreiam votos
para Dilma, e as críticas -o
bicho come- também.
Para Dilma, não há por
que quebrar a cabeça -ou
queimar a língua- se o time
está ganhando.
Daí os discursos recorrerem a outros temas. Bolsa Família, por exemplo.
Serra, acusado de pretender extinguir o benefício,
promete dobrar o número de
famílias atendidas. Diz que
gerará recursos com reduções dos gastos com juros.
Dilma duvida e exibe os resultados concretos do atual
governo. O interessante é
que, sem falar de economia,
os dois invertem os discursos
econômicos que deles se poderiam esperar -se tomarmos suas formações políticas
e intelectuais.
Serra abre mão de temas
que são constitutivos de seu
pensamento, como a crítica
ao "assistencialismo" e a defesa do rigor fiscal, característicos de um keynesianismo que incorporou ditames
da ortodoxia. É de se supor
que busca atrair as camadas
mais pobres da população.
Dilma fala de responsabilidade fiscal e metas realistas,
atípicos do keynesianismo
mais intensivo característico
do PT. É de se deduzir que
quer preservar os que rejeitam mudanças econômicas.
LUIZ GUILHERME PIVA é diretor da LCA
Consultores. Publicou "A Miséria da
Economia e da Política" (Manole).
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