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Dilma e Serra trocam acusações em duelo mais agressivo da campanha
PETISTA DIZ QUE MULHER DE SEU RIVAL A ACUSOU DE SER A FAVOR DE "MATAR CRIANCINHAS" MAIS EXALTADA, EX-MINISTRA INSINUA QUE O TUCANO, SE ELEITO, PODE PRIVATIZAR A EXPLORAÇÃO DO PRÉ-SAL EX-GOVERNADOR CHAMA OPONENTE DE 'DUAS CARAS' POR MUDAR DE OPINIÃO SOBRE ABORTO E PÕE EM DÚVIDA SUA CRENÇA EM DEUS
Moacyr Lopes Jr/Folhapress
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Os candidatos à Presidência Serra e Dilma antes do debate de ontem à noite na Bandeirantes
DE SÃO PAULO
As promessas de "paz e
amor" foram deixadas de lado. Os candidatos Dilma
Rousseff (PT) e José Serra
(PSDB) realizaram ontem, na
Band, o embate mais duro e
agressivo desta campanha.
Os ataques envolveram
principalmente o aborto,
contra Dilma, e as privatizações, contra Serra.
O primeiro ataque, logo na
abertura do debate, partiu de
Dilma. Ela acusou a campanha de Serra de atingi-la com
"calúnias, mentiras e difamações". "Até com questões
religiosas", afirmou.
O tucano reagiu citando as
posições de sua adversária
em relação ao aborto: "Você
disse com clareza, e isso está
filmado, que é a favor da liberação do aborto. Depois disse
o contrário. É uma questão
de não ser coerente, de ter
duas caras".
"Serra, você tem que ter
cuidado para não ter mil caras", revidou Dilma. "Você
[como ministro da Saúde] regulamentou o acesso ao
aborto no SUS", acrescentou
ela, referindo-se à criação de
norma técnica para realização do aborto previsto em lei.
Dilma citou a mulher do
tucano, Monica Serra, que teria declarado que a petista
era "a favor de matar criancinhas". "Acho gravíssima a
fala da sua senhora."
Na resposta, Serra não falou de sua mulher. Dilma voltou ao assunto. "Sua esposa
disse: "a Dilma é a favor da
morte de criancinhas". É tão
absurda a acusação." De novo, o candidato tucano preferiu não tratar de sua mulher.
Após o debate, disse não saber do que Dilma falava.
Entre os dois candidatos, a
petista foi a mais exaltada e
demonstrou nervosismo.
Chegou a dizer que Serra
poderia ser enquadrado na
Lei da Ficha Limpa pelo fato
de um juiz ter aceito uma denúncia de calúnia e difamação contra ele. Crimes contra
a honra, porém, não tornam
um político "ficha-suja".
PRIVATIZAÇÃO
No segundo bloco, o tema
dos ataques foram as privatizações. Dilma, citando assessores tucanos, disse que José
Serra tem planos de privatizar a exploração do petróleo
localizado no pré-sal.
Lembrou que Serra, como
governador de São Paulo,
vendeu o banco Nossa Caixa.
E citou as privatizações realizadas por FHC: "Vocês financiavam grupos estrangeiros
com dinheiro do BNDES. No
limite da irresponsabilidade,
financiavam grupos internacionais para comprar patrimônio público brasileiro".
Serra, então, afirmou que
o PT dificultou a privatização
das empresas estatais de telefonia, no governo FHC.
"Sabe qual seria o Brasil do
PT? O Brasil do orelhão. Ninguém teria celular."
Em seguida, o tucano disse que irá "fortalecer e reestatizar" os Correios, a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES. "Com relação
ao petróleo, não vou fazer
privatização nenhuma."
Um dos temas escolhidos
por Serra para tentar acuar
Dilma foi a acusação de corrupção que derrubou Erenice
Guerra da Casa Civil.
"Há uma pessoa, chefe da
Casa Civil, seu braço direito
por sete anos e três meses,
que organizou um grande esquema de corrupção. Você
não tem nada a ver. É tudo
alheio a você", ironizou.
Dilma entrou no assunto
superficialmente: "No que se
refere a Erenice, fico indignada com a contratação de parente e de amigos, com critérios que não sejam técnicos".
E continuou: "Mas você
deveria se lembrar de Paulo
Vieira de Souza, seu assessor
que fugiu com R$ 4 milhões,
dinheiro da sua campanha".
Souza, conhecido como
Paulo Preto, é o ex-diretor de
engenharia da Dersa paulista
citado no inquérito da Operação Castelo de Areia. Segundo a revista "IstoÉ", ele arrecadou R$ 4 milhões não declarados à Justiça Eleitoral.
Serra não falou sobre Souza. Depois provocou: "Estou
surpreso com essa agressividade, esse treinamento. A
Dilma Rousseff está se mostrando como é de verdade".
No final do debate, Dilma
Rousseff disse duvidar que
Serra manteria os programas
sociais do governo Lula.
"Ele [no governo de SP] reduziu programas do Alckmin, como Escola de Tempo
Integral e Escola da Família.
Como é que a gente acredita
que ele vai de fato continuar
os programas do Lula?"
Serra preferiu falar sobre
apoios políticos: "Ela tem
dois ex-presidentes com ela,
que ela não fala nunca: Collor e Sarney. Eu tenho dois:
Itamar e Fernando Henrique,
pessoas dignas".
Em meio às trocas de acusações, o primeiro debate do
segundo turno foi pobre em
programas de governo. A petista e o tucano falaram ligeiramente de propostas para a
educação e a saúde, por
exemplo, dois dos temas que
mais inquietam os eleitores.
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