São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010

Temer virou vice contra a vontade de Lula

Presidente tentou emplacar Meirelles, mas presidente do PMDB argumentou que, sem ele, não haveria aliança

Deputado consolidou seu poder no partido no 2º mandato de Lula, com o enfraquecimento da ala ligada a Sarney


KENNEDY ALENCAR
DE BRASÍLIA

Paulista de Tietê, Michel Temer, 69, virou vice de Dilma Rousseff contra a vontade da candidata do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi escolhido porque, sem ele, não seria viabilizada a aliança PT-PMDB.
No segundo mandato de Lula, dois aliados de primeira hora de Lula e adversários internos de Temer no PMDB caíram em desgraça: o presidente do Senado, José Sarney (AP), e o líder da bancada peemedebista na Casa, Renan Calheiros (AL).
Abriu-se, então, o caminho para que Temer, presidente nacional do PMDB, e seus aliados na Câmara dos Deputados consolidassem o controle do partido.
Sem a ala de Temer, seria impossível fechar a aliança que garantirá a Dilma o maior tempo no horário eleitoral gratuito. O preço: indicá-lo vice da petista e abrir espaço nos Estados para candidatos do PMDB em detrimento de nomes do PT.

MEIRELLES
Lula até tentou emplacar o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como vice de Dilma.
Meirelles se filiou ao PMDB no final de setembro passado, pouco antes do fim prazo legal para se habilitar a disputar um cargo em 3 de outubro. Lula imaginava usar a popularidade recorde e a subida de Dilma nas pesquisas para impor Meirelles.
O presidente do BC chegou a dizer que deixaria o cargo até o início de abril, fim do prazo legal para poder concorrer. Lula deu corda, mas Temer não aceitou.
Numa conversa franca com Meirelles, disse que apenas a indicação dele, presidente do partido, garantiria a aliança. O mesmo recado foi dado a um auxiliar direto do presidente. Lula preferiu não pagar para ver.
Hoje, Lula e Temer têm boa relação. Não era assim. No primeiro mandato, Temer liderou o grupo oposicionista do PMDB -ala que havia apoiado a candidatura presidencial derrotada de José Serra (PSDB) em 2002.

POSSE DE LULA
Ao tomar posse na Presidência, Lula fez questão de prestigiar seus aliados peemedebistas de primeira hora, como Sarney e Renan. Não oficializou aliança com todo o PMDB, contrariando recomendação do então chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Ao longo do primeiro governo, Lula compôs com uma ala do PMDB, dando-lhe dois ministérios. Durante o escândalo do mensalão, com a perda de popularidade, Lula enfrentou CPIs e sofreu derrotas na Câmara.
Convencido de que precisava do PMDB para ter blindagem no Congresso, Lula cedeu ao partido no segundo mandato. A sigla hoje tem seis ministros.
Começava a transição de Temer da oposição para a situação. PT e PMDB fecharam acordo para se revezar na presidência da Câmara.

ALIADO CONFIÁVEL
Em 2007, peemedebistas apoiaram o petista Arlindo Chinaglia para comandar a Casa. Em 2009, o PT retribuiu e elegeu Temer, que já fora escolhido presidente da Câmara em 1997 e 1999 -ambas as vezes no governo de Fernando Henrique Cardoso, ao qual deu suporte.
Na crise do Senado, enquanto Sarney se enfraquecia, Temer se mostrou um aliado mais confiável até do que o petista Chinaglia. Bancou reinterpretação das MPs (medidas provisórias) que preservou o poder de Lula e desobstruiu a pauta de votação. Lula nunca mais sofreu com CPIs na Câmara, mas, no Senado, continuava com maioria instável e causadora de mais dores de cabeça.
Amigo de Serra e visto como o mais tucano dos peemedebistas, Temer agrega o perfil conciliador e conservador à durona e radical Dilma. Professor de direito, exerce o sexto mandato de deputado federal pelo PMDB paulista.
Antes de ser eleito deputado pela primeira vez, em 1986, foi procurador-geral do Estado de São Paulo (1983-84) e secretário de Segurança Pública do Estado (1984-86).


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