São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2010 |
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FERNANDA TORRES Contrários
OS PARCOS segundos dados aos candidatos a deputado na televisão obrigam os aspirantes a uma concisão de dar pena. Alguns optam pela simpatia, disparando com a rapidez de um raio seu nome de campanha com um sorriso congelado no rosto. Outros preferem declamar com determinação o seu número de inscrição no TRE, 8!4!7!9! Alguns gritam e muitos demonstram indignação. É como se, por meio da anunciação do sujeito, devêssemos compreender toda a capacidade legislativa e gestora dos participantes. Já fiz muitos comerciais e sei da dificuldade de condensar as qualidades incomparáveis de um produto até caberem em apertadas frações de momento. Mesmo assim, é possível descartar inúmeros concorrentes pela inabilidade com que se apresentam. Entre os que gozam de um espaço maior aqui no Rio, um me causou imenso espanto: Flávio Bolsonaro. Eu posso não entender o mundo da mesma maneira do que ele, mas poucas vezes vi alguém se apresentar de forma tão clara e definitiva. "Sou de direita. Luto contra os direitos humanos, que só servem para proteger os bandidos e os marginais." No milênio do politicamente correto, fascina a firmeza com que Bolsonaro defende suas convicções. Nascido em Resende, na Academia Militar das Agulhas Negras, Bolsonaro é jovem e bem apessoado; defende a pena de morte, a redução da maioridade penal, é contra as cotas nas universidades e criou a Lei Estadual nº 4.916/06, que torna gratuitas laqueadura e vasectomia nos hospitais da rede pública. Ligado ao Partido Progressista, foi eleito deputado estadual com mais de 40 mil votos. Defende a dignidade das forças militares e auxiliares, jamais esteve envolvido em corrupção e se preocupa com a explosão demográfica e a valorização da família. Marcelo Freixo partilha de muitas das preocupações de Bolsonaro, mas as encara sob um ponto de vista diametralmente oposto. Ex-professor de história, esteve à frente da comissão dos direitos humanos da Alerj, é vice-presidente da CPI do Tribunal de Contas do Estado e presidiu a CPI das Milícias. Em 2008, entrou com o pedido de cassação de Álvaro Lins, então deputado, ex-secretário de Segurança do governo Garotinho. Freixo vive hoje sob ameaça de morte. Apesar dos 50 mil eleitores que provavelmente votarão nele, existe uma forte possibilidade de Freixo não assumir o cargo. Para ter o direito de eleger um deputado, qualquer partido deve receber mais de 120 mil votos como um todo. A campanha de Heloísa Helena na última eleição viabilizou a candidatura de Freixo, mas desta vez o PSOL não conta com um presidenciável tão popular, além de não ter feito nenhuma coligação. Será muito difícil repetir o feito. Foi a primeira vez que pensei em ir a público apoiar uma candidatura nesta eleição. Não tenho nenhuma afinidade com o PSOL e não acredito na mistura de arte com corrida eleitoral, mas o Rio perderá muito sem um homem como Freixo. Bolsonaro afirma que o dinheiro na gaveta do comandante do filme "A Tropa de Elite" é uma questão crucial de segurança para o Estado. Acredito que Freixo concorde com ele, mas discorda certamente do fim da sentença: "...não o saco na cabeça do vagabundo". FERNANDA TORRES é atriz AMANHÃ EM ELEIÇÕES: Vladimir Safatle Texto Anterior: Servidora viu dados de 248 filiados a siglas Próximo Texto: Folha retoma filme premiado em nova campanha na TV Índice | Comunicar Erros |
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