São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2011

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Brasil vai levar guerra cambial à OMC

Tentativas de discutir o tema no G20 e no Fundo Monetário Internacional têm enfrentado resistência chinesa

O objetivo não é fazer com que a organização fixe regras, mas discuta a vinculação do tema com o comércio exterior


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SANYA (CHINA)

O Brasil decidiu levar à OMC (Organização Mundial do Comércio) o que o ministro Guido Mantega chamou tempos atrás de "guerra cambial", expressão que ganhou toda a mídia global.
É uma alusão ao fato de que as moedas norte-americana e chinesa estão subvalorizadas, o que facilita as exportações de ambos os países. O real, ao contrário, está excessivamente valorizado, o que mina a competitividade das exportações.
No documento a ser encaminhado à OMC, a palavra guerra não aparece. Entra no lugar "assimetria cambial", o que é a mesma coisa, mas cabe num documento formal.
O próprio ministro consultou Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, para saber se haveria margem para discutir o assunto, na medida em que as tentativas feitas pelo Brasil no G20 e no Fundo Monetário Internacional haviam esbarrado na resistência dos chineses, principalmente.
Lamy disse a Mantega que, em princípio, a OMC não é o foro adequado para discutir câmbio, assunto que, no âmbito das organizações internacionais, compete ao FMI. Mas fez uma consulta mais detalhada e achou que valia a pena o Brasil recorrer. Ainda mais que o pedido não é para a OMC fixar regras para o câmbio, mas para discutir sua vinculação ao comércio.
Trata-se, portanto, muito mais de um seminário global sobre o tema do que algo parecido com as reclamações brasileiras sobre o algodão dos EUA, por exemplo.
Ainda assim, o simples fato de colocar na OMC um tema que não é estritamente comercial tende a provocar ruído suficiente para agitar uma discussão que não sai do lugar em outros âmbitos.
A brecha encontrada pela diplomacia brasileira é simplificada pelo embaixador Roberto Azevedo, representante do país junto à OMC da seguinte maneira: "Não dá para tirar com uma mão o que se dá com a outra".
Traduzindo: países que reduziram as tarifas de importação não podem ter um câmbio excessivamente desvalorizado, o que anula a abertura tarifária.
"Essa discussão, que já começou no G20, tem que ser feita também na OMC, já que a vinculação câmbio/comércio é óbvia, intuitiva até", diz o embaixador. A decisão de recorrer à OMC mostra o quanto o governo está incomodado com a questão, ainda mais que não consegue fazer o tema avançar nem no G20 nem no FMI.
Mesmo no âmbito dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), nada foi discutido ontem, segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
A China não tem a menor disposição de ser colocada no banco dos réus pelos seus parceiros. Mas Coutinho preferiu dizer que o câmbio é um problema do Brasil.


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