São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2010

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VOLTAIRE DE SOUZA

Força dos bonés

Os jovens precisam participar da política. Mas o interesse do idoso também deve ser estimulado. Aos 85 anos, dona Clélia acompanhava os debates. - Espera. Conheço esse aí.
- Quem, mãe?
- O... o... qual o nome dele mesmo?
Ela rebobinou imagens do ginasial.
- Moço idealista... Socialismo já. Batuta.
- Ô, mãe... coisa mais antiga...o Muro caiu.
Dona Clélia se levantou do sofá. O trabalho de crochê rolou pelo chão.
- O muro entre ricos e pobres? Continua alto. Des-comu-nal, Carlinhos.
Carlos marcou reunião de família.
- É paixão enrustida...
- Gagazice, isso sim.
- Se ela resolve doar toda a grana... babau.
Milhões na poupança. Um plano de ação. Os enfermeiros do Lar Sol Nascente chegaram. Carlos dava ordens.
- Opa.Opa. De avental branco, não. Vamos pondo os bonezinhos...Bonés vermelhos. Camisetas do Che.
- Então, mãe.Você vai para o Centro de Formação Política do Movimento. Disciplina um pouco rígida...mas com autonomia...
A anciã entrou na Kombi com ânimo juvenil.
- Pé na tábua, camarada.
Atrás dos muros da instituição, ela faz discursos exaltados. Muros e opiniões dividem famílias. Mas, numa coisa, todos concordam. Quando a cabeça está feita, é hora de usar o boné.


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