São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Com acampamentos vazios, Dilma se livra da pressão sofrida por FHC e Lula


A ASSINATURA DO DECRETO ERA UMA FORMA DE AMENIZAR A TENSÃO NO CAMPO, NOS TEMPOS EM QUE O MST DAVA TRABALHO

EDUARDO SCOLESE
SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

Nas gestões FHC e Lula, os presidentes ficavam numa sinuca de bico quando o assessor jurídico do Palácio do Planalto aparecia com um decreto de desapropriação de terra pronto para ser assinado.
E eles assinavam. Caso contrário, nos dias seguintes logo teriam notícias de novas invasões de terras e de prédios públicos, marchas e barricadas em estradas.
Sem contar os conflitos dos sem-terra com fazendeiros e PMs, que dezenas de vezes acabavam em mortes e repercussão negativa para o governo no Brasil e no exterior.
Aquela assinatura do decreto e a publicação no "Diário Oficial" era, sim, uma forma de amenizar a tensão no campo, nos tempos em que o MST tinha volume, dava trabalho e fazia barulho.
Hoje a realidade política é outra. A presidente Dilma, por exemplo, não sofre as pressões pela reforma agrária como seus antecessores.
FHC era oposição e tentava não dar combustível aos adversários de PT e MST.
Já Lula carregava um histórico de promessas de que faria a reforma agrária na marra e na "canetada".
Hoje, a demanda por terra também é outra. A consolidação do Bolsa Família, a política de valorização do salário mínimo e a criação de empregos nos centros urbanos esvaziaram a motivação de um sem-terra para largar o pouco que tem para morar debaixo de uma barraca de lona à espera de um lote de terra que nem sabe se um dia chegará.
Sem contar que, como ação de governo, a reforma agrária aparece em xeque: em tempos de cortes no Orçamento, a valorização do preço da terra deixou essa política cada vez mais onerosa e jogou a criação de assentamentos para a Amazônia, região sem infraestrutura e longe das bases acampadas do MST que ainda existem.
Agora, ao rejeitar um processo de desapropriação, a presidente Dilma pode estar sendo "muito minuciosa" ou desinteressada pelo tema, mas isso, só um balanço de seus quatro anos de governo poderá dizer.


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