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ENTREVISTA RUBNEI QUÍCOLI
"Fiquei horrorizado de ter de pagar", diz negociador
CONSULTOR CONFIRMA ENCONTRO COM ERENICE, DIZ QUE EMPRESA SE RECUSOU A PAGAR PROPINA E DESCREVE REUNIÃO COM ISRAEL
Letícia Moreira/Folhapress
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Rubnei Quícoli, consultor da EDRB, empresa de Campinas
DE BRASÍLIA
O empresário Rubnei Quícoli disse que ficou "horrorizado" e se sentiu "lesado"
ao receber a proposta de
contrato da Capital Consultoria, empresa que pertence
a um filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. A
seguir, trechos de uma das
entrevistas que o consultor
deu à Folha.
Folha - Quando e como você
foi apresentado à empresa
Capital?
Rubnei Quícoli - Me foi
apresentado o Marco Antonio [ex-diretor dos Correios].
Ele ficou durante um tempo
como diretor dos Correios e
me trouxe o [sobrinho dele,
que trabalhava na Casa Civil]
Vinícius, onde foram viabilizados esses e-mails para poder ir para a Casa Civil para
demonstrar esse projeto.
É lógico que o pessoal viu o
tamanho do investimento e
todo mundo criou uma situação favorável para ele, em
termos de participação e intermediação. Acho que todo
mundo que trabalha tem direito a alguma coisa, mas
dentro de uma coisa normal.
Estive na Casa Civil junto
com a Erenice, que era a secretária-executiva da Casa
Civil. A Dilma não pôde me
receber, estava com outros
afazeres. Ela sabe do projeto,
recebeu em 2005, se não me
engano. O documento foi encaminhado para o MME [Ministério de Minas e Energia].
Houve essa reunião com a
Erenice, que encaminhou isso para a Chesf. A Chesf teve
reunião conosco, me parece
que um deles teve problema
de saúde, isso acarretou todo
esse tempo em que aconteceu esse contrato de participação, de intermediação.
Eu fiquei horrorizado de
ter que pagar R$ 40 mil por
mês para eles terem um favorecimento de acesso. Para
que eu vou pagar se não vai
sair [o crédito]? Eles diziam
que iria sair, para dar sustentação e eu pagar os R$ 40 mil.
E eu decidi com [os sócios] o
Aldo e o Marcelo não pagar
nada e esperar ver.
Quando você conversou com
o Vinícius, ele se apresentou
como da empresa Capital?
Não, ele disse que iria me
levar para o escritório que daria a sequência do trabalho,
que precisaria do escritório
para dar manutenção, assessoria e consultoria para a
gente não ficar desprotegido.
Erenice prometeu fazer algo?
Ela se colocou num patamar assim: "Vou ver onde eu
coloco isso". Ela colocou que
a Chesf seria a empresa recomendada porque está no
Nordeste. Nessa condição ela
agiu corretamente. [...] Até
então eu nem sabia da existência da Capital, para mim o
negócio estava sendo direcionado ao governo. Eu não
sabia que existia propina no
meio, contrato, que eu teria
que pagar. Não dá para entender a pessoa deixar um filho [Israel Guerra] tomar conta de um ministério. É um
projeto que foi investido muito dinheiro para parar por
conta de propina.
O senhor recebeu e-mail com
cobrança. O que queriam?
A ideia principal era amarrar o aporte e a manutenção
de R$ 40 mil para eles porque
era final de ano. A gente sabe
como funciona Brasília. Eles
[a Capital] queriam receber
antecipadamente uma mensalidade para poder se manter. Quem está fazendo uma
intermediação de R$ 9 bilhões e vai se preocupar com
R$ 40 mil por mês? Não dá
para entender.
Como você reagiu quando pediram dinheiro?
Eu mandei, desculpe a expressão, para a puta que o
pariu. Falei: "Vocês estão de
brincadeira?" [Disse] que
não assinava nada.
Em que momento o Israel
apareceu?
O que aconteceu depois?
Isso foi informação do Marco
Antônio. Ele falou que precisava de R$ 5 milhões para poder pagar a dívida lá que a
mulher de ferro tinha. Que tinha que ser uma coisa por fora para apagar um incêndio.
Quem era a mulher de ferro?
A mulher de ferro é a Dilma e a Erenice, as duas. Não
sei quanto é a dívida de uma
e de outra. Eu sei que a Erenice precisava de dinheiro para
cobrir essa dívida. O Marco
Antônio é que pediu. Eu falei:
"Eu não vou dar dinheiro nenhum. Eu estou fazendo um
negócio que é por dentro e estou me sentindo lesado".
Aí o Marco Antônio falou:
"O Israel, filho da Erenice,
bloqueou a operação porque
você não deu o dinheiro". Isso é a palavra do Marco Antônio. Eu respondi: "Não tenho
conversa com bandido". Isso
aconteceu há três meses. Foi
o último contato com eles.
Você esteve com o Israel?
O encontro foi no escritório do Brasília Shopping. O
Israel nunca pediu nada porque eu não dei chance. Eu
não sabia que ele era filho da
Erenice. Soube pelo Marco
Antônio. Quanto à atitude
dele, barrar um negócio desse por conta do dinheiro me
deixou totalmente nervoso,
com atitude até agressiva.
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