São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2010

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Corrida de obstáculos


Candidatos entulham calçadas com cavaletes, que atrapalham a circulação, mas criam empregos temporários para "guardadores'

EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO

A campanha eleitoral transformou uma simples caminhada pelas calçadas em uma prova de obstáculos.
A vedete da propaganda eleitoral neste ano são aqueles cavaletes que geralmente trazem foto, nome e número do candidato.
Colocados nas calçadas, atrapalham os pedestres e poluem o visual da cidade.
"O direito de ir e vir das pessoas está sendo tolhido. Sem contar que são de extremo mau gosto", diz a advogada Célia Marcondes, presidente da Samorcc (Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira César).
Então, por que os candidatos insistem nesse tipo de propaganda? Porque é um dos poucos tipos de propaganda de rua permitidos pela legislação eleitoral.
"Nas campanhas anteriores eles colocavam placas nos postes. Um colocava em cima da placa do outro, era uma bagunça", diz Rogério Miranda, da BR Promo, empresa especializada em materiais gráficos.
Segundo ele, o cavalete é prático porque pode ser retirado facilmente, mudado de lugar a cada dia e aguenta a campanha eleitoral inteira sob sol ou sob chuva.
Cada cavalete, do mais simples, custa entre R$ 15 e R$ 60, dependendo da quantidade encomendada.
Miranda disse que um único candidato chegou a encomendar 2.000 peças de uma vez. Esse grande volume geralmente sai para candidatos a senador ou a deputado federal em reeleição.
Mesmo permitido, o uso do cavalete tem restrição. Só pode ficar disponível das 6h às 22h e não pode ser colocado em praças ou canteiros centrais de avenidas.
Essas restrições criaram um novo tipo de profissional temporário nas campanhas: o "guardador de placa". São pessoas que cuidam de colocar o material de manhã, retirar à noite e, durante o dia, vigiam para ver se não caem, quebram, são roubados...

POLUIÇÃO VISUAL
"Ninguém gosta de ver isso. São esses políticos que vão fazer as leis, que vão dizer que a cidade tem de ser limpa, mas que cidade limpa não vale em época de eleição", diz Célia Marcondes.
Ronaldo Lopes, da Novva Mídia, também especializada em materiais gráficos, concorda que os cavaletes de propaganda eleitoral poluíram a cidade.
A restrição ao uso de outros tipos de propaganda -placas de postes, outdoors etc.- diminuiu o faturamento das empresas no setor em período eleitoral.
Lopes diz que a eleição era uma espécie de Natal das empresas do setor: o faturamento crescia até 200% nesse período em relação a um mês normal. Agora, o faturamento cresce 50%, se tanto.


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