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Degraus desafiam deputados cadeirantes
Rampas íngremes e escadas impedirão que recém-eleitos subam à tribuna e integrem Mesa Diretora da Câmara
Mara Gabrilli, Rosinha da Adefal e Walter Tosta cobram livre circulação; Senado, STF e Planalto também têm problemas
JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
JAIRO MARQUES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Eleitos como os 510 colegas, Mara Gabrilli (PSDB-SP),
Rosinha da Adefal (PT do B-AL) e Walter Tosta (PMN-MG)
começarão seus mandatos
de deputados com duas graves desvantagens: não poderão subir à tribuna para discursar e não poderão integrar
a Mesa Diretora (que comanda sessões no plenário).
Cinco degraus os separam
da tribuna, outros quatro os
levariam à Mesa. Os três deputados são cadeirantes, e a
distância é intransponível.
A eleição deles tem ineditismos. Gabrilli é a primeira
deputada tetraplégica e, em
conjunto com os dois colegas, forma o grupo mais numeroso de deputados dependentes de uma cadeira de rodas na mesma legislatura
-segundo o programa de
acessibilidade da Câmara.
De mudança para a cidade, os três vão encontrar inúmeros obstáculos à livre circulação, incluindo na lista os
prédios públicos federais.
A Folha visitou a Câmara,
o Senado, o Palácio do Planalto, o STF (Supremo Tribunal Federal) e o MEC (Ministério da Educação), com o objetivo de mapear a acessibilidade dos locais por onde passarão os eleitos.
Na Câmara, os problemas
são mais numerosos. Rampas íngremes impedirão que
o deputado circule com autonomia entre o plenário e as
comissões. A situação é tal
que um cadeirante não vai,
sozinho, do plenário à reunião interna da Comissão de
Direitos Humanos.
O principal obstáculo, e o
mais simbólico, é a impossibilidade de o cadeirante subir à tribuna ou compor a Mesa, pois o acesso é feito por
lances de escada.
A situação é "um atraso",
na opinião do eleito Tosta.
"Até por saber que já tivemos
outros deputados paraplégicos. É discriminação."
SÓ NO PAPEL
O projeto para construir
uma rampa, em elaboração
desde 2006, só poderá ser implementado em 2011.
Segundo Adriana Jannuzzi, coordenadora do programa de acessibilidade da Casa, a obra levará ao menos 40
dias. Com a posse da presidente eleita Dilma Rousseff
em janeiro e a dos deputados
em fevereiro, não há tempo
para a reforma neste ano.
Entrosados, Gabrilli, Tosta
e Rosinha cobram alteração
na estrutura da Casa.
Gabrilli quer uma solução
até fevereiro. "Como posso
fazer um discurso exigindo
acessibilidade se onde vou
estar não tem?", questiona.
"Vamos ter que dar um jeito, mesmo que colocando um
compensado", diz Rosinha.
Jannuzzi diz que a obra
não foi feita por motivos variados, inclusive políticos.
Segundo ela, se o projeto
apresentado por Gabrilli for
factível, não ferir o tombamento, não for excessivamente caro e se houver tempo para licitá-lo, poderá ser
implementado. Caso contrário, ficará para depois.
Gabrilli quer que seja criado um mecanismo para que
ela possa votar no plenário
-como o software que usa
na Câmara Municipal de São
Paulo, onde é vereadora.
Nas sessões, ela movimenta o mouse na tela do painel
eletrônico com os olhos. Ao
piscar, seleciona as opções
"sim", "não" e "abstenção".
No STF e no Senado, há
uma estrutura mais acessível
que a da Câmara às pessoas
com deficiência -mas ainda
existem problemas.
No Senado, o elevador que
leva às galerias -de onde o
público assiste à sessão- está quebrado há um ano.
No STF, o púlpito de onde
advogados falam é alto e tem
degrau; segundo o tribunal,
será reformado em janeiro.
No Planalto, a espessura
dos carpetes dificulta a circulação. Os banheiros acessíveis são identificados com
expressão em desuso.
A Presidência disse que
analisará o problema com o
carpete e, se necessário, trocará a nomenclatura dos banheiros. No MEC, os banheiros não são acessíveis em todos os andares.
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