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Senador é acusado de comprar testemunhas
Ex-empregado de TV de Gilvam Borges diz que ele pagou por depoimentos contra seus adversários João e Janete Capiberibe
Casal foi cassado por compra de votos e não pode assumir cargos no Congresso porque caiu na Lei da Ficha Limpa
LUCAS FERRAZ
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
Um ex-funcionário de uma
TV da família do senador Gilvam Borges (PMDB-AP) acusa o político de ter comprado
três testemunhas no processo que cassou os mandatos
do casal João e Janete Capiberibe, ambos do PSB.
O ex-governador do Amapá e sua mulher foram cassados por compra de votos nas
eleições de 2002, quando se
elegeram senador e deputada federal, respectivamente.
Borges, principal aliado
do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no
Amapá, nega a acusação.
Em dois depoimentos de
julho, um registrado em cartório, em Macapá (AP), e outro prestado na condição de
informante ao Ministério Público Federal do Amapá, o
ex-funcionário Roberval
Araújo contou ter sido procurado por Gilvam Borges para
realizar uma operação intitulada "Cavalo Doido".
Localizado pela Folha na
última quinta-feira, por telefone, Araújo confirmou ter
prestado os depoimentos.
NEGOCIAÇÃO
Nos dois documentos obtidos pela reportagem, ele diz
que o senador Borges o procurou dias depois das eleições de 2002, perguntando
quanto ele queria "para arranjar três testemunhas para
depor contra" os Capiberibe.
"[Borges] autorizou a negociar com as testemunhas,
podendo oferecer casa, dinheiro, carro, o que fosse necessário", declarou Araújo.
Araújo, que trabalhou na
TV Tucuju, de Macapá, como
cinegrafista e motorista, disse que "negociou o depoimento" das testemunhas do
processo de cassação do casal Capiberibe. As testemunhas disseram à Justiça ter
recebido R$ 26 pelos votos.
"Fui autorizado a prometer uma casa para cada testemunha. A promessa consistia em comprar casas após o
testemunho no TRE", afirmou Araújo na declaração
registrada em cartório.
Após encontrar as três pessoas dispostas a dar os testemunhos, Araújo levou-as a
um cartório e lá registrou as
acusações. Ele disse que os
depoimentos foram conduzidos por uma advogada.
Do cartório, as testemunhas foram levadas a uma
casa na periferia de Macapá,
onde teriam ficado "guardadas" por 30 dias, até a data
do depoimento que precisaram dar à Justiça Eleitoral.
O dinheiro para comprar
as testemunhas, disse Araújo, foi repassado por um irmão de Gilvam Borges.
O ex-funcionário da TV
disse ainda ter comprado as
três casas para o trio. Elas teriam revendido os imóveis,
depois, e retornado ao seu
bairro de origem, quando teriam passado a receber
R$ 2.000 mensais.
FICHA LIMPA
Após a cassação pelo TSE,
João e Janete Capiberibe perderam seus mandatos no Senado e na Câmara em 2005 e
2006, respectivamente.
Em 2010, os dois se candidataram novamente e tiveram votos suficientes para
serem eleitos. Mas, como estão enquadrados na Lei da
Ficha Limpa por conta da
cassação, não assumiram. O
casal tenta reaver os cargos.
O filho deles, Camilo, foi
eleito governador do Amapá.
Para a defesa, mesmo se os
depoimentos de fato foram
"comprados", como diz o ex-funcionário, seria "tecnicamente impossível" reverter a
cassação, já que na Justiça
Eleitoral não cabe ação rescisória. Só caberia se eles fossem condenados a inelegibilidade, o que não ocorreu.
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