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ANÁLISE
Formado por parâmetros econômicos, Orçamento é síntese política do país
LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Orçamento, formado e
analisado por parâmetros
econômicos, é a síntese política de um país.
Política no sentido amplo:
relações de conflito, convergência ou aliança entre grupos sociais que buscam conquistar e manter o poder e
que têm, cada um, um dado
espectro de interesses -sejam imediatos, simplórios,
perenes ou nobres.
A capacidade de adotar e
implantar o quanto se extrai
de recursos da sociedade, e
de atribuir aos grupos a cota
de recolhimento de cada um,
já expressa um certo arranjo
de forças (o escolhido pelo
governo ou o que lhe foi possível) e a legitimidade (coerção e consenso) do poder. Isso quanto às receitas.
Nas despesas, trata-se
também de escolher que grupos se apropriarão dos recursos, e em qual distribuição.
Também aqui as escolhas e circunstâncias do governo estarão expressas.
O termo governo não se refere só ao presidente, à sua
burocracia, ou mesmo ao Poder Executivo. É o arco que,
além desses, inclui os integrantes -no Legislativo, no
Judiciário, na sociedade- da
sustentação do poder nacional. Parece complexo para
entender. Mas é simples.
Um exemplo, nas receitas:
escolher ou ter que aceitar
que a maior parte das receitas virá de impostos indiretos
(embutidos nos preços e que
incidem mais, proporcionalmente, sobre quem ganha
menos) e não de diretos (que
variam conforme a renda e a
riqueza do contribuinte) é
uma situação que dirá muito
da configuração política do
país. Outro, nas despesas:
quanto vai se gastar em programas sociais, em obras, em
custeio e subsídios?
Há, é claro, tanto nas despesas como nas receitas, algum "saber" estabelecido:
ninguém acha que tudo é
possível. Mas o exercício de
ver politicamente quais são
os dutos que irrigam e sugam
os cofres públicos, e como
eles são construídos na elaboração orçamentária, é
muito interessante.
LUIZ GUILHERME PIVA é diretor da LCA
Consultores. Publicou "A Miséria da
Economia e da Política" (Manole)
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