|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Para especialistas, história não será reescrita
Documentos sobre Guerra do Paraguai, por exemplo, já podem ser consultados no Rio
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
Toda a documentação diplomática de 1808 a 1960, incluindo papéis classificados
como secretos e ultrassecretos, pode ser consultada por
pesquisadores no Arquivo
Histórico do Itamaraty no
Rio, afirma o ministério.
Isso inclui os documentos
sobre a Guerra do Paraguai
(1864-1870) e as negociações
pela posse do Acre -citados
por senadores para defender
a possibilidade de sigilo eterno para o material.
A Folha foi ao arquivo e
ouviu de funcionários que
não há nada sob sigilo.
A pesquisa está temporariamente suspensa para uma
reforma nas instalações do
século 19, que guardam 6 milhões de documentos. No
ano passado, houve 109 autorizações de consulta.
O arquivo foi aberto em
1992, por uma portaria do então chanceler Celso Lafer baseada numa lei de 1991 que
não previa o sigilo eterno.
Lafer não acredita que haja ali papeis relevantes sobre
Paraguai e fronteiras que não
tenham sido consultados.
"Não sei o que teria levado
o presidente Sarney e o presidente Collor a fazer essas declarações", disse.
Historiadores habituados
a consultar arquivos diplomáticos ouvidos pela Folha
não descartam a existência
de documentos inéditos. Mas
não acreditam em algo capaz
de reescrever a história.
"Me parece que o temor
pessoal é um dos aspectos
mais centrais. A preocupação de Collor e Sarney é com
o período mais atual", diz Pio
Penna Filho, da UnB (Universidade de Brasília).
Embora o Itamaraty declare o material até 1960 aberto,
o historiador afirma que não
há transparência na concessão de acesso.
Francisco Doratioto (UnB)
diz que os segredos da Guerra do Paraguai são "lenda urbana". No caso da negociação entre Brasil e Bolívia pelo
território ocupado pelo Acre,
ele minimiza riscos de divulgação dos papéis.
"Algumas figuras, tanto
do lado brasileiro quanto do
boliviano, talvez possam sair
menores, afirma.
O historiador José Murilo
de Carvalho, que participou
de uma comissão para examinar a liberação de documentos no governo FHC, diz
que o grupo se convenceu de
que a abertura não traria risco em relação às fronteiras e
à Guerra do Paraguai. "Países maduros não têm medo
de enfrentar o passado."
Texto Anterior: Diplomacia: Dilma afirma que mudou de opinião Próximo Texto: Frase Índice | Comunicar Erros
|