São Paulo, sábado, 18 de junho de 2011

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Para especialistas, história não será reescrita

Documentos sobre Guerra do Paraguai, por exemplo, já podem ser consultados no Rio

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA

Toda a documentação diplomática de 1808 a 1960, incluindo papéis classificados como secretos e ultrassecretos, pode ser consultada por pesquisadores no Arquivo Histórico do Itamaraty no Rio, afirma o ministério.
Isso inclui os documentos sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870) e as negociações pela posse do Acre -citados por senadores para defender a possibilidade de sigilo eterno para o material.
A Folha foi ao arquivo e ouviu de funcionários que não há nada sob sigilo.
A pesquisa está temporariamente suspensa para uma reforma nas instalações do século 19, que guardam 6 milhões de documentos. No ano passado, houve 109 autorizações de consulta.
O arquivo foi aberto em 1992, por uma portaria do então chanceler Celso Lafer baseada numa lei de 1991 que não previa o sigilo eterno.
Lafer não acredita que haja ali papeis relevantes sobre Paraguai e fronteiras que não tenham sido consultados.
"Não sei o que teria levado o presidente Sarney e o presidente Collor a fazer essas declarações", disse.
Historiadores habituados a consultar arquivos diplomáticos ouvidos pela Folha não descartam a existência de documentos inéditos. Mas não acreditam em algo capaz de reescrever a história.
"Me parece que o temor pessoal é um dos aspectos mais centrais. A preocupação de Collor e Sarney é com o período mais atual", diz Pio Penna Filho, da UnB (Universidade de Brasília).
Embora o Itamaraty declare o material até 1960 aberto, o historiador afirma que não há transparência na concessão de acesso.
Francisco Doratioto (UnB) diz que os segredos da Guerra do Paraguai são "lenda urbana". No caso da negociação entre Brasil e Bolívia pelo território ocupado pelo Acre, ele minimiza riscos de divulgação dos papéis.
"Algumas figuras, tanto do lado brasileiro quanto do boliviano, talvez possam sair menores, afirma.
O historiador José Murilo de Carvalho, que participou de uma comissão para examinar a liberação de documentos no governo FHC, diz que o grupo se convenceu de que a abertura não traria risco em relação às fronteiras e à Guerra do Paraguai. "Países maduros não têm medo de enfrentar o passado."


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