São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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PRESIDENTE 40/ELEIÇÕES 2010

Brasilianistas veem Serra e Dilma parecidos

Estudiosos afirmam que os dois têm posições semelhantes sobre economia, mas veem diferenças na política externa

Anthony Pereira avalia que Dilma deve ser um pouco mais estatista e menos pró-EUA do que seu adversário tucano


PLÍNIO FRAGA
DO RIO

Os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) são mais parecidos e têm mais convergências do que admitem, assim como o governo Lula foi mais continuísta em relação ao de FHC do que gosta de assumir. A avaliação é de sete brasilianistas -acadêmicos internacionais especializados em estudos brasileiros.
A entidade que os congrega, a Brasa, fará sua 10ª conferência internacional de 22 a 24 de julho, em Brasília. Gerenciar bem a produção de petróleo, ampliar as reformas e investir na educação são sugestões ao eleito.
"Tenho ficado desapontado com ambos por serem um bocado suaves. O PT tem medo de assumir uma postura mais agressiva à esquerda, e o PSDB está com medo de tomar uma posição mais agressiva pró-mercado. Contudo, moderação pode ser uma boa coisa e é o resultado natural de eleições majoritárias", reclama Scott Desposato, da Universidade da Califórnia.
Anthony Pereira, diretor do King's Brazil Institute, afirma que os dois têm "posições semelhantes" sobre economia, mas "Dilma deve ser um pouco mais estatista em relação à política econômica e envolvimento do Estado na economia e sua política externa deve ser menos pró-EUA do que a de Serra".
William C. Smith, professor da Universidade de Miami, também não vê "grandes diferenças entre Dilma e Serra. Os dois compartilham orientações semelhantes sobre a política econômica".
Para Marshall Eakin, historiador da Universidade Vanderbilt, o país estará "bem servido" por qualquer um, apesar de se mostrar inclinado ao tucano. "Serra claramente tem mais experiência como administrador. Se Dilma ganhar, provavelmente continuará a usurpação gradual dos principais postos do governo", diz.

CREDIBILIDADE
Ashley Brown, da John F. Kennedy School of Government, da Universidade Harvard, elogia a petista: "Em termos de percepção externa, os dois candidatos majoritários têm alta credibilidade e competência", afirma.
"O único candidato que conheço pessoalmente bem é Dilma, com quem tive a oportunidade de trabalhar. É muito inteligente, curiosa intelectualmente, bastante realista e uma administradora extraordinariamente competente", afirma Brown.
James Green, professor de história da Universidade Brown, em tom crítico, ressalta que Lula deu continuidade à maior parte da política macroeconômica de FHC.
"Suspeito que Dilma a continuará, se for eleita. Muitas das políticas de FHC foram concebidas para favorecer determinados setores da economia e provocar um "trickle down efecct" (concessão de benefícios a setores empresariais que beneficiariam toda a população), mas não está claro se esse processo ocorreu com sucesso."
Lawrence Graham, professor da Universidade do Texas, aponta vieses opostos entre a petista e o tucano.
"Com Dilma Rousseff, pode-se esperar maior distanciamento em relação aos EUA e à União Europeia. Em contraste, acredito que José Serra melhoraria os laços diplomáticos e econômicos com América do Norte e Europa."
John D. French, professor da Universidade Duke, usa o Barão de Itararé (pseudônimo do humorista Apparício Torelly) para apontar problemas nas duas chapas: "Afirma o Barão: "Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo'; e "quem só fala dos grandes, pequeno fica"."


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