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Família dominou corrupção no Amapá, aponta inquérito
De acordo com PF, estratégia era nomear parentes para evitar vazamentos
Parte da apuração partiu
de gravações de mulher
que, dizem policiais, era
amante do governador
Pedro Paulo Dias, preso
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ
Ao assumir em março o governo do Amapá, Pedro Paulo Dias (PP) fez como seu antecessor e apoiador, Waldez
Góes (PDT), e envolveu quase toda a sua família em diversos canais de corrupção,
de acordo com as investigações da Polícia Federal.
Sua mulher, Denise Carvalho, assumiu a Secretaria da
Inclusão e Mobilização Social. Na chefia de gabinete
dessa pasta ficou Solangelo
Fonseca, cunhado de Dias.
Benedito Dias, seu irmão,
se tornou secretário especial
da Governadoria, bem próximo ao governador. O cirurgião Eupídio, outro irmão, foi
para a Secretaria da Saúde.
Um "parceiro" seu, segundo a PF, Sebastião Máximo,
virou secretário de Planejamento, Orçamento e Tesouro. Todos esses órgãos estão
no centro das dezenas de supostas fraudes detectadas
pelas investigações da PF.
As apurações da PF apontaram para um suposto esquema de desvios de recursos públicos no Estado. Na
semana passada, 18 pessoas
foram presas -entre elas,
Góes e Dias, que continuam
detidos em Brasília.
Essa estratégia de lotear
cargos de maior importância
entre familiares era comum
nos sete anos em que Góes foi
governador. Ele, dizem os
policiais, chegou a ter 60
membros de seu clã empregados no governo.
De acordo com a PF, essa
era uma maneira de concentrar poder, dificultar o vazamento das operações tidas
como ilegais e tentar se "perpetuar" no governo.
PEÇA-CHAVE
Mas a "familiar" que ocupa o papel central na extensa
trama de irregularidades, segundo os investigadores, é
Livia Gato, uma jovem assessora da Saúde e amante de
Dias, de acordo com a PF.
Livia participa ou conhece
quase todas as supostas negociatas e foi extensamente
gravada em interceptações
telefônicas da PF.
Foi a partir das gravações
das ligações de Livia -autorizadas pela Justiça- que a
PF detectou os primeiros indícios de irregularidades.
É ela, por exemplo, que
ouve Dias afirmar, em ligação gravada, que ele tenta receber US$ 30 milhões (R$ 51
milhões) de um grupo de investidores estrangeiros para
a sua campanha, em troca de
futuras facilidades na implantação de um projeto de
plantio de dendê no Estado.
Numa das conversas, fala-se desse valor a ser recebido.
"Porque [...], amor, US$ 30
milhões pra esses caras aqui
é nada. [...] Eu, por mais que,
gastando uma fortuna, eu
não consigo gastar US$ 20
milhões, tá entendendo."
Assim como Livia, o filho
de Dias, Luiz Henrique, e namorada dele, Hanna, se beneficiaram das regalias ilegais dadas pelo governador.
Mesmo sem cargos no governo, todos viajaram diversas vezes de avião com as
despesas pagas pela Secretaria da Saúde, como indicam
os grampos do inquérito.
GRUPO DE EXTERMÍNIO
O Ministério Público do
Amapá afirma que recebeu
denúncias de que testemunhas no inquérito da PF que
serviu de base para a operação Mãos Limpas estão recebendo ameaças de morte.
Uma equipe apura o caso.
"Acreditamos que 99%
dessas ameaças são coisas de
desocupados, mas estamos
investigando esse 1%, que
parece sério", disse o promotor Eder Geraldo Abreu.
Colaborou JEAN-PHILIP STRUCK , de São
Paulo
FOLHA.com
Ouça as escutas no
Amapá
folha.com.br/po800445
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